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Abeiva prevê falta de carros importados em dezembro

O presidente da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva), José Luiz Gandini, disse hoje que haverá falta de carros importados nas concessionárias no mês de dezembro. Ele prevê que a vigência das novas alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para importados, a partir de 16 de dezembro, vai provocar uma corrida às concessionárias até a primeira quinzena do próximo mês. “Historicamente dezembro já é um mês bom de vendas. Sabendo que vai haver aumento de preços, prevejo que haverá uma corrida às lojas. A primeira quinzena de dezembro será uma loucura”, afirmou.

Segundo ele, porém, não haverá veículos suficientes para atender a demanda dos consumidores. De acordo com Gandini, o ciclo de importação – que inclui pedido, confirmação do pedido, produção e período de transporte – é de no mínimo 90 dias. Como a suspensão do IPI só foi decidida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 20 de outubro, o setor não conseguiu fazer encomendas que chegassem antes da segunda quinzena de janeiro, quando as novas alíquotas já terão entrado em vigor. “Com certeza faltarão veículos. Ninguém conseguiu pedir carros de forma tão rápida”, afirmou.

Gandini explicou que o repasse do novo IPI será imediato a partir de 16 de dezembro, mas caberá a cada marca decidir o porcentual de aumento nos preços. Ele acredita, entretanto, que nenhuma marca vai elevar os preços de forma integral, com repasse de 30 pontos porcentuais de alta no tributo para os veículos que não atenderem a cota de 65% de componentes nacionais. “Com o repasse integral a venda de importados ficaria inviável”, disse, ressaltando que as concessionárias deverão renegociar preços com os fornecedores, reduzir margens de lucro e comissões dos funcionários.

De acordo com o vice-presidente da Abeiva, Paulo Kakinoff, a queda de 41,2% nas vendas de importados em outubro comparativamente a setembro foi motivada pela antecipação de compras por parte dos consumidores, que aproveitaram para adquirir veículo que já haviam sido faturados antes do anúncio do governo sobre o IPI, em 15 de setembro. “Foi um mês bastante atípico para nós”, disse ele, destacando que setembro registrou um recorde no ano em termos de vendas, com 22.569 unidades comercializadas. Em outubro as vendas somaram 13.264 veículos, o menor resultado mensal desde fevereiro deste ano, quando 11.893 importados foram negociados.

Projeção

Segundo a Abeiva, a participação dos carros importados no total de vendas no País no mês de outubro foi de 5,03%. “Acho realmente difícil considerar que haja uma invasão de importados levando em conta esses 5,03% de participação”, afirmou. A entidade ainda não calculou a projeção de vendas de importados para 2012. “Nunca foi tão difícil fazer um exercício de planejamento como agora”, afirmou Kakinoff. Em seu diagnóstico, o consumidor está perdido, dada à profusão de notícias divergentes sobre a validade do aumento do IPI, e as empresas possuem políticas distintas de repasse.

A Abeiva contratou a consultoria do ex-ministro Miguel Jorge para tentar convencer o governo a rever o reajuste do IPI. Para Gandini, a medida não trouxe novos investimentos para o País. “As marcas que vão fazer fábricas no País já haviam anunciado publicamente esta decisão antes do novo IPI”, disse, citando BMW, JAC e Cherry. A Land Rover confirmou que está em conversas com o governo, mas não revelou o teor das reuniões, embora o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, já tenha anunciado a intenção da marca de construir uma fábrica no Brasil.

“Os únicos beneficiados com essa medida são os associados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) que já estão instalados no País”, disse Kakinoff. “Hoje é praticamente impossível começar a produção de veículos com 65% de nacionalização. Pode ser que, se o governo rever isso, novas marcas possam vir, mas do jeito que está não virão”, completou Gandini.

O presidente da Abeiva, que também é presidente da Kia no Brasil, voltou a criticar a medida. “O IPI não pode ser usado como barreira alfandegária”, afirmou, ressaltando que o tributo deve ser maior para carros mais potentes ou mais poluentes. “A verdade é que os importados não estavam deixando que os nacionais subissem seus preços. Mesmo pagando 35% de imposto de importação estávamos com preços bons e as montadoras já instaladas no País estavam tendo que baixar preços”.

Ele também disse que vê uma discordância de posições entre Pimentel e o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Enquanto Pimentel tem afirmado que o novo IPI valerá até o fim de 2012, seu colega diz que o índice de nacionalização poderá aumentar para 70% ou 75% a partir de 2013 para as montadoras que quiserem continuar com o IPI reduzido. “Há uma discordância interna dentro do governo. Isso é um absurdo”, afirmou.

“Aumentar o imposto sobre um produto que já é sobretaxado é uma distorção, ainda mais em um País que possui os carros mais caros do mundo e uma das cargas tributárias mais elevadas. Qualquer medida de aumento de imposto deve ser repudiada”, disse Kakinoff, destacando que metade dos carros comercializados pelos associados da Abeiva não possui competidores nacionais. “O governo só está afastando o consumidor do acesso a um veículo com tecnologia de ponta”.

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