O ciclo de alta da Selic tende a ser menor por ter começado antes do esperado, surpreendendo parte do mercado, avaliou o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, em entrevista ma quinta-feira, 30, ao Broadcast ao Vivo, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. Segundo ele, o Banco Central acertou ao elevar a taxa básica de juros na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de quarta-feira, 29, quando isso não estava precificado, já que assim a decisão tem um impacto maior.
“Se você está precisando adquirir credibilidade, a única forma de mexer com o mercado nesse sentido é surpreendê-lo. Se você fizer tudo dentro do script, não altera as expectativas”, diz. “O BC não precisa avisar tudo o que vai fazer; surpresa ajuda a reconstruir credibilidade.”
Outro fator que indica que o ciclo de aperto monetário pode ser menor do que o esperado é o comunicado do BC após a reunião em que elevou a taxa, no qual ele diz que “considerou oportuno ajustar as condições monetárias de modo a garantir, a um custo menor, a prevalência de um cenário mais benigno para a inflação em 2015 e 2016”.
A votação apertada, com cinco votos favoráveis ao aumento e três que queriam manutenção da taxa Selic, também colabora com essa visão de que o ciclo pode ser menor, com um aumento total de 1,0 ponto porcentual, segundo Leal. “O tamanho do ciclo vai depender dos desdobramentos do mercado internacional, da pressão do câmbio, da política fiscal e da pressão dos preços administrados”, diz.
Segundo ele, a ata da reunião, que será divulgada na próxima quinta-feira, pode trazer informações importantes sobre o futuro da política monetária. Leal também diz que o BC talvez tenha ajudado o governo, já que as primeiras sinalizações da presidente Dilma Rousseff (PT) após sua reeleição é de uma maior responsabilidade com a política fiscal e uma política monetária mais ajustada.