A tentativa de reinvenção dos Correios

A mudança da logomarca dos Correios, revelada no início deste mês, é mais do que uma ação de marketing isolada: sinaliza uma estratégia de revitalização que começou a ser desenhada três anos atrás, depois que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos se viu abalada por escândalos políticos, como o do Mensalão, e sofreu com o avanço de concorrentes privados, que aproveitaram para ganhar mercado no vácuo das ineficiências do gigante público.

Para viabilizar o projeto de reinvenção, que inclui a diversificação de suas receitas, o volume de investimentos da instituição cresceu: de R$ 404 milhões, em 2012, deve ficar em R$ 600 milhões neste ano – dinheiro que, segundo o presidente dos Correios, Wagner Pinheiro, vem de aplicações financeiras da empresa, e não do caixa do governo federal, seu controlador.

Esses recursos, porém, terão de dar conta de uma longa lista de projetos, inclusive alguns não relacionados com sua atividade principal, como a ampliação do Banco Postal e a criação de uma operadora de telefonia celular própria. No setor de entregas, a companhia pretende construir 14 centros de triagem de pacotes e reformar outros seis nos próximos anos, além de melhorar seu sistema de acompanhamento de cargas. Tudo isso com a meta de atender melhor às empresas de e-commerce.

A aposta nesse nicho tem razão de ser: as vendas pela internet cresceram 28% em 2013, movimentando R$ 28,8 bilhões. O serviço de postagem, monopólio dos Correios, avança num ritmo muito menor, de 7%.

Domínio

O presidente dos Correios estima que a participação da instituição no e-commerce – responsável por 90 milhões de entregas em 2013 – esteja próxima a 40%. Esse domínio é justificado pela presença nacional da empresa, que tem obrigação de atender a todo o País. Por isso, as companhias que vendem para regiões distantes dos grandes centros dependem, em alguma medida, da estatal.

O setor privado é mais agressivo em cidades como Rio e São Paulo. “Isso acontece porque o custo dos Correios para CEPs próximos é relativamente caro”, diz Caio Vaz, membro da diretoria de logística da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm). “Para distâncias curtas, empresas maiores preferem contratar parceiros especializados e regionais.”

É a escolha que faz o empresário Vanoil Pereira, fundador do e-commerce de moda Passarela.com, que vendeu R$ 500 milhões em 2013. Ele envia a maior parte de suas cargas pelos Correios, mas usa serviços privados para uma opção de entrega em 12 horas, disponível para mercados como a capital paulista.

Além da vantagem regional, as empresas privadas se aproveitaram até agora de uma outra brecha deixada pela estatal: a demora em adotar inovações tecnológicas em sua cadeia. A confirmação de entregas em tempo real, por exemplo, já é adotada há quase quatro anos por empresas como a Direct Log, por exemplo. Só no fim deste ano, os Correios terão esse serviço 100% implementado. “Há uma demanda por bons serviços de rastreamento, e os Correios demoraram para reagir”, diz Pedro Guasti, diretor da E-bit, empresa que reúne informações sobre e-commerce.

A promessa de um serviço mais ágil tem feito alguns grandes varejistas apostarem em uma parceria com a empresa pública. É o caso de companhias como o Mercado Livre e o eBay.

“A decisão sobre o frete é feita por nossos compradores e vendedores, e os Correios oferecem um preço bem competitivo”, diz Luis Arjona, responsável pela operação do eBay no País, que tem 90% dos pacotes entregues pelos Correios.

Ainda que a tecnologia chegue ao nível da concorrência, Pedro Guasti diz que um fantasma continuará rondando a empresa pública (e seus clientes): as greves. “Quando a entrega é paralisada, o que acontece pelo menos uma vez no ano, as empresas recebem uma enxurrada de reclamações.” Colaborou Naiana Oscar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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