Por que nossa produtividade está caindo? O ambiente econômico do mercado como um todo cria um ambiente psicológico nas empresas, que por sua vez, controla a atitude das pessoas em relação ao seu trabalho.
Demissões, tomadas de controle acionário hostil e reestruturação empresarial massiva são realidades, e o medo que geram é perceptível. Embora esses problemas sejam, sem dúvida, concretos, são também a expressão específica de uma ansiedade generalizada que pode paralisar pessoas e empresas. Quando as pessoas ficam paralisadas, não conseguem realizar muita coisa. O ponto crucial do excesso de ansiedade é a sensação de não termos controle sobre o que está acontecendo. Perdemos a capacidade de enxergar o todo. A ansiedade faz as pessoas sentirem-se vítimas.
Quanto mais aumenta a ansiedade, o ceticismo aumenta e a moral se abate. As empresas não conseguirão desempenho entusiástico de pessoas temerosas, céticas, ressentidas, apáticas e desconfiadas.
Enquanto a maioria dos empregados compreende a razão das mudanças no antigo contrato de emprego que prometia quase completa estabilidade no serviço, para muitos essas mudanças assemelham-se a uma traição de confiança. Principalmente quando estão frente à perda de segurança e desemprego, essa mudanças são experimentadas emocionalmente como um ruptura de fé. É o começo da emoção do medo. O medo é a sensação de não termos mais controle sobre aquilo que está acontecendo. Quando as pessoas sentem-se impotentes, ficam preocupadas com questões de poder, pois nunca estão seguras. Suas antenas ficam ligadas procurando indícios de coerção e malevolência. Negam qualquer mudança e tentam recriar a sensação de controle e segurança. Ficam hipersensíveis e medo gera medo. Assim, quando a ansiedade aumenta, aumentam também boatos. Ninguém sabe o que está acontecendo. Imaginam as piores situações. Ficam apreensivas e agitadas. Procuram compaixão. Queixam-se muito, lembrando do tempo dm que as coisas eram fáceis.
Pessoas preocupadas não trabalham bem. A maior parte de sua energia é absorvida ao tentarem dominar suas emoções; enquanto se preocupam consigo mesmas, elas não se preocupam com a organização e sua conduta.
Tentam evitar conflitos e divergências. Concentradas em princípios políticos, em agradar as superiores e evitam expressar opiniões diferentes que são a essência do verdadeiro trabalho.
Agarram-se ao seu território tentando controlar e defender. Qualquer indivíduo passa a ser um predador em potencial, pois também estão tentando proteger-se, de maneira que não se pode confiar em mais ninguém.
Sob o medo não existe ambição de verdade, porque resta pouca energia. Usam a energia para se manterem onde estão, deixa de existir a obrigação para com o todo, não há trabalho de equipe. As pessoa deixam de auxiliar, só dedicam o tempo necessário ao trabalho e não partilham informações.
A rivalidade se torna inflexível, deixam de cooperar e de comunicar-se, originando um verdadeiro campo de batalha.
Hoje, à medida que a marcha das mudanças acelera-se cada vez mais, necessitamos de pessoas que tenham suficiente confiança para enfrentar os problemas imprevisíveis do amanhã. As pessoas acomodadas não possuem as habilidades necessárias para lidar com as mudanças. Não têm disciplina para perseverar, confiança para opor-se a incerteza, ou coragem para iniciar e inovar. Encontramo-nos em uma encruzilhada crítica.
Precisamos nos livrar do comodismo. Precisamos delegar poderes às pessoas, dando-lhes responsabilidades e fazer com que respondam por seus atos. Só assim poderemos gerar crescimento e confiança para a máxima produtividade. Assim, para que ocorram mudanças, o sistema necessita de um choque significativo, a motivação de crises. Desligar-se do lugar seguro.
Nós psicólogos, há muito nos preocupamos com os efeitos debilitantes de demasiada ansiedade e sabemos que a incerteza em alto grau é prejudicial à produtividade. Mas deixamos de compreender os efeitos igualmente destrutivos produzidos por um grau baixo de ansiedade.
Quando a vida é segura demais, nosso potencial deixa a desejar. Se as pessoas recebem sem ter de dar de si, ficam protegidas contra o fracasso. À primeira vista, isso pode parecer um bem, mas não é. Protegendo as pessoas contra o risco, destruímos sua auto-estima. Privamo-las da oportunidade de se tornarem pessoas enérgicas, competentes e altamente motivadas.
Enfrentar riscos é a única maneira de conquistar confiança, pois este é resultado do domínio de desafios. A confiança é um estado de espírito; não pode ser dada, tem de ser conquistada. A única maneira de adquirirmos confiança de verdade é nos familiarizarmos com o medo e dominá-lo. Para que aprendamos, é necessário errar às vezes. Ganhamos coragem, força para tentar algo novo só quando aprendemos a ver um fracasso como uma batalha e não como guerra. Sem coragem, ninguém se arrisca; sem correr riscos, ninguém faz germinar a coragem.
Assim, ansiedade de menos é uma coisa destrutiva. Ela priva as pessoas das experiências que geram confiança. As pessoas nunca aprendem a enfrentar riscos para chegar ao sucesso. Nunca têm oportunidade de expandir suas habilidades para competir, para conseguir alguma coisa quando se sentem inseguras.
Em vez de adquirirem força, coragem e confiança, as pessoas apanhadas na rede do comodismo são cautelosas e evitam riscos. O resultado a longo prazo da proteção excessiva é uma busca interminável, porque se teme perdê-la.
Exigir que as pessoas mereçam o que recebem é, a princípio, muito mais rigoroso do que simplesmente dar-lhes isso. Mas com o correr do tempo, é a única maneira de elas adquirirem amor-próprio e independência.
Em termos gerais, quando não há responsabilidade por níveis de desempenho, as pessoas não se empenham. Em vez disso, tornam-se enfadadas e apáticas.
Cabe a nós brasileiros, quebrar essa grande onda de inércia e negativismo que abala nosso País. É necessário investir cada vez mais na educação e aperfeiçoamento das pessoas. Ao melhorar seus conhecimentos, agregamos valores às pessoas, dando-lhes a oportunidade de desenvolver novas habilidades e talentos, tornando-as motivadas e confiantes. Seu desempenho pode aumentar ao máximo, em menos tempo, tornando-as capazes de estabelecer ligações fortes e duradouras. Quando estimuladas, estabelecem alianças duradouras, comunicam-se de forma clara e objetiva, dividem informações e tarefas em harmonia.
A escolha é nossa, podemos continuar pessimistas ou aceitar as mudanças confiando.
Irene Betiato Leal
é psicóloga.