Ezicléia Ferreira, 21 anos; Milton do Nascimento, 38; José Messias dos Santos, 50; Leandro Teixeira, 20. O que há de comum entre os quatro é que, juntos, eles engrossam as estatísticas de desemprego do País. Na última semana, eles e outras dezenas de pessoas aguardavam uma oportunidade de emprego na fila da Agência do Trabalhador, no centro de Curitiba. Gostariam de passar o Dia Internacional do Trabalho trabalhando. Em março, do total de 17.453 inscritos na Agência do Trabalhador, apenas 861 conseguiram se recolocar no mercado.
?Está difícil de conseguir emprego, principalmente por causa da idade. Até os 35 anos é fácil, mas depois dos 40 fica complicado?, desabafou José Messias dos Santos, 50. Desempregado há dois meses, Santos conta que está aceitando qualquer trabalho mesmo que não seja em sua área. ?Minha profissão é motorista, mas já trabalhei como frentista, lavador de carros.? No último emprego, Santos ganhava R$ 500,00.
Mas o desemprego não atinge apenas aqueles que têm mais de 40 anos. Leandro Luiz Teixeira, 20, está desempregado há sete meses. Com o Ensino Médio completo e curso técnico em Contabilidade, ele revela que no último emprego ganhava apenas um salário mínimo (R$ 260,00). ?As empresas exigem experiência, qualificação, conhecimento?, diz Leandro.
Falta de qualificação, no entanto, não é o que falta para Milton Sérgio do Nascimento, 38. Formado em Bacharelado de Sistemas pela PUCPR, conta que mesmo assim ficou desempregado durante oito meses. Depois de um ano e meio no último emprego, foi dispensado sob a alegação de redução de custos. Estava na Agência do Trabalhador para dar entrada no Seguro-Desemprego e aproveitar para buscar nova colocação no mercado de trabalho.
Esse é o retrato parcial dos trabalhadores neste Dia Internacional do Trabalho. Mas a situação já foi bem pior. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), a taxa de desemprego em 2003 era de 19,90%. No ano passado, houve ligeira queda para 18,70%, e a estimativa é que este índice se mantenha este ano. No Paraná, a participação do mercado formal no total de ocupados também vem crescendo. Em 96, a participação era de 35,35% – dos 4,2 milhões de ocupados, 1,4 milhão estava no mercado formal. Em 2003, a participação avançou para 38,93% – 1,6 milhão entre os 4,9 milhões.
De acordo com o supervisor técnico do Dieese-PR, Cid Cordeiro, a taxa de desemprego é mais elevada entre os jovens, especialmente até os 24 anos de idade. O motivo é simples: ?O mercado exige experiência de quem não tem ou grau de escolaridade que o jovem ainda está adquirindo?, explicou.
Pontos positivos
De acordo com Cid Cordeiro, apesar de todos os reveses, nesse Primeiro de Maio há motivos para se comemorar. ?Depois de um cenário bastante negativo durante seis anos, em 2004 a economia começou finalmente a dar sinais de recuperação. O PIB cresceu 5,18% , a maior taxa de crescimento da economia desde 1994; a inflação foi de 7,70% e o desemprego caiu para 18,70%?, apontou. Segundo ele, o crédito consignado em folha de pagamento, com taxa de juros menor – 37% em média ao ano, contra 74% em outras sistemas – contribuiu para a expansão de 20% do volume de crédito. Outro fator positivo, lembrou, foi o aumento do salário mínimo – de R$ 260 para R$ 300 – a partir de hoje. ?É um aumento real de 9%, que injetará R$ 13 bilhões na economia brasileira.?
Entre os desafios, Cordeiro cita a taxa de juros elevada, ?que compromete parte do orçamento e desempenho da economia?; implantação de uma política de médio e longo prazos para o salário mínimo; redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais; geração de emprego e redução da taxa de desemprego do País, ?que dependem do crescimento sustentável do País?, além da redução da carga tributária sobre os salários – atualização da tabela do Imposto de Renda.
Salário médio no Paraná é de R$ 951,46
Depois de amargar seis anos de perdas salariais, entre 1998 e 2003, os salários apresentaram aumento real em 2004. De acordo com Cid Cordeiro, do Dieese-PR, apesar de ser uma leve recuperação – crescimento do rendimento de 1,22% -, a expectativa é que esse resultado represente uma inversão de tendência, e o salário que passou por seis anos de queda no seu poder de compra, tenha iniciado em 2004 um período de recuperação de seu valor real. No Paraná, o salário médio no mercado formal é de R$ 951,46 – R$ 1.294,00 na Região Metropolitana de Curitiba e R$ 814,00 no interior.
Segundo levantamento do Dieese, entre 1998 e 2003 os trabalhadores com carteira assinada tiveram perda real de 28,29% – quase um terço do poder de compra do salário. De acordo com Cid Cordeiro, as perdas se devem ao baixo crescimento da economia, aumento do desemprego, terceirização, rotatividade e aumento da inflação em alguns períodos. ?São fatores que dificultaram a mobilização dos trabalhadores e conseqüentemente dos resultados nas negociações coletivas?, explicou.
Nesse período (98 a 2003) o PIB teve um crescimento médio de apenas 1,5%, a inflação registrou variação média de 8,13%, taxa de desemprego atingindo média de 18,60% e a renda com queda real média anual de 5,39%. (LS)