Transporte

App 99 se recupera da pandemia com corridas das classes econômicas mais baixas

Aplicativo 99. Foto: Maicon J. Gomes / Gazeta do Povo / Arquivo

O aplicativo de transportes 99 comemora a retomada do fluxo normal de operações neste mês. Parte da recuperação é atribuída à rápida expansão do 99Pay, serviço digital lançado oficialmente em agosto, mas testado a partir de julho.

O crescimento do 99Pay foi impulsionado especialmente pelas classes C e D, público-alvo da nova funcionalidade, e ajudou a repor a queda no volume de clientes com maior poder aquisitivo. Nos primeiros meses do isolamento social por causa da pandemia de coronavírus, as corridas nos bairros nobres de São Paulo, por exemplo, praticamente foram a zero. Neste mês, ela voltou a registrar 100% do nível de viagens de antes da decretação da pandemia.

No Brasil, a empresa já contabiliza 20 milhões de pessoas cadastradas no app, e 750 mil motoristas ativos, que fazem pelo menos uma corrida mensal pela plataforma.

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A retomada do número de corridas, no entanto, apresenta uma nítida mudança no perfil do usuário, como explica Davi Miyake, diretor de Operações e Produtos da empresa. “Durante a fase mais severa da pandemia no Brasil, chegamos a ter uma queda de mais de 70% no nosso volume de corridas”, afirma Miyake.

“Mas no começo de abril, enquanto víamos uma queda que levava quase a zero o fluxo em áreas centrais de São Paulo ou na rota para o aeroporto, havia uma recuperação muito rápida nas periferias: lá as pessoas continuavam a trabalhar, não estavam ficando em casa”, diz Miyake.

Pelos dados obtidos naquele período, ele conta que a 99 teve um crescimento de 55% nessas regiões, e que, ali, as pessoas fizeram no máximo um a três meses de isolamento, voltando depois ao trabalho.

“Só que as pessoas que voltavam estavam muito impactadas pelas imagens de transporte público lotado, e o risco de contágio era muito grande para eles, então muitos viram na 99 uma opção, com as alternativas de preços mais acessíveis”, diz o executivo.

Mudança de público

Levantamento fechado recentemente pela 99 revela que nas seis capitais analisadas (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Manaus), o uso do aplicativo pelas classes C e D aumentou 25% em outubro ante fevereiro deste ano, mês anterior a expansão da Covid-19 no Brasil.

Já as classes A e B reduziram o uso do app em 28%.

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Segundo Miyake, os motores dessa mudança foram as modalidades de corridas mais acessíveis, como o 99Poupa, que permite fazer corridas até 30% mais baratas fora dos horários de pico, ou o 99Compartilha. “Este ano fomos realmente na contramão da crise”, afirma ele.

O executivo conta que não foi preciso demitir e a empresa manteve todos os nossos 1.000 funcionários trabalhando em casa.

“Fizemos um investimento de R$ 157 milhões no Brasil, dos quais R$ 90 milhões em desenvolvimento de novos produtos, R$ 35 milhões em segurança e R$ 32 milhões em ações de combate e prevenção do coronavírus, com distribuição de 550 mil máscaras aos motoristas, álcool em gel e instalação das telas de acrílico”, afirma.

Para o executivo, o fato de a 99 ser controlada pela DiDi também ajudou no planejamento da reação contra os impactos da pandemia.

“A DiDi foi pioneira em medidas preventivas, porque já em janeiro, na China, introduziu o sistema que permite identificar se o motorista está usando a máscara e as medidas sanitárias e de identificação do passageiro apertando um botão pelo qual aparece seu nome”, explica.

Classe C e D

Responsável pela retomada das corridas, a população da classe C e D é justamente o público procurado pelo serviço de carteira digital recém-lançado -o primeiro de uma empresa de ride-hailing, como são chamadas as companhias voltadas para o compartilhamento de corridas e caronas.

O serviço permite ao usuário do app adicionar dinheiro a sua carteira por meio de diferentes canais (cartão de crédito, transferência e boleto bancário) sem taxas extras.

A carteira, segundo informou a empresa por meio de nota, pode ser utilizada não só para os serviços oferecidos pela plataforma, como transporte e entrega de comida, mas para pagamento de boletos e recargas de telefones celulares.

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Ele ainda está em fase de testes nas praças de Curitiba (PR), Campinas (SP), São José Dos Campos (SP) e Uberlândia (MG). Nesta última, vêm sendo oferecidas as funcionalidades “Recarga na Corrida” e “Troco na Carteira”. A primeira permite que a carteira seja carregada em dinheiro vivo, assim como os pagamentos autorizados, diretamente com o motorista do aplicativo, até o limite de R$ 100.

A segunda função permite que o troco de uma corrida paga em dinheiro vivo seja depositado diretamente na carteira 99Pay, ficando disponível para futuras transações ou corridas.

Compartilhamento

Antes da pandemia, todas as projeções de cenários futuros asseguravam que o compartilhamento de veículos predominaria como hábito das próximas gerações, substituindo o velho sonho do carro próprio pela liberdade de contratar uma corrida sem arcar com os custos de sua manutenção do veículo.

As primeiras reações ao isolamento social chegaram a abalar essa projeção, já que muitas pessoas voltaram aos seus carros particulares. Veio então a percepção de uma nova linha de serviços.

“No nosso mercado específico, acreditamos que ainda há um potencial muito grande”, garante Miyake. Ele calcula que, contabilizando todas os deslocamentos feitos diariamente pelos brasileiros, “seja de carro próprio, ônibus, bicicleta, metrô, táxi, os serviços de mobilidade por app representam talvez menos de 2%”. O desafio, segundo ele, é a questão cultural que ainda relaciona a posse de um carro a status social.

“Mas cada vez mais, principalmente nas gerações mais novas, as pessoas não têm interesse em ter carro”, afirma. “Antes, era normal se formar e ganhar um carro, mas hoje fazemos entrevistas e o pessoal que sai da faculdade não tem nem carteira de habilitação e vê isso como normal”.

Essa avaliação está alinhada com as projeções feitas pelo Instituto Copenhagen de Estudos Futuros (CIFS, na sigla em inglês). Segundo o responsável pela organização dinamarquesa para a América Latina, Peter Kronstrøm, acidentes de percurso, como a pandemia, não devem afetar essa previsão, passado o primeiro momento de impacto.

“A tendência do veículo compartilhado, que libera de forma cada vez mais democrática o passageiro para fazer outra coisa no lugar de dirigir, é irreversível”, diz o executivo dinamarquês. Segundo ele, apesar de o mundo leigo ter se mostrado surpreso com a irrupção da pandemia, “ela já estava mais do que prevista e alertas não faltaram, então, não alteram essa projeção”.

“O que deve acontecer, pelo que nossos estudos estão indicando, é que a velocidade para essa tendência se disseminar vai ser reduzida nos próximos anos, fora o fato de que vai haver ainda espaço, sempre, para carro individual, como gosto pessoal”, afirma Kronstrøm. E completa: “Empresas de compartilhamento de carros são, sim, o futuro das próximas gerações”

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