59% dos inadimplentes são de baixa renda

As famílias com renda de até três salários mínimos aumentaram sua participação no total de inadimplentes de 32% em setembro de 2008 para 59% em março deste ano na cidade de São Paulo, conforme mostrou pesquisa da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Para Marcel Solimeo, economista da ACSP, esta maior participação das famílias de baixa renda entre o total de inadimplentes reflete o acesso de uma ampla parcela de consumidores de menor rendimento no mercado de crédito nos últimos anos.

A pesquisa foi realizada junto a 703 consumidores que procuraram informações no Balcão de Atendimento do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) da entidade, que elabora o levantamento semestralmente. De acordo com o levantamento, a faixa com renda de três a quatro salários mínimos teve redução na participação do total de inadimplentes, no mesmo período em análise, de 27% para 17%. Já a faixa superior a quatro e até cinco salários mínimos registrou queda de 18% para 13%; a faixa superior a cinco e até sete salários mínimos passou de 10% para 6%; e as famílias com renda superior a sete salários mínimos tiveram diminuição de 13% para 5%.

A maior causa da inadimplência foi o desemprego do entrevistado ou de alguém da família, citado por 48% dos entrevistados. Em seguida, o descontrole dos gastos foi destacado por 12%. Solimeo destacou que a pesquisa ainda não reflete o recente aumento do desemprego, pois existe uma defasagem de alguns meses entre a obtenção do crédito e a inadimplência. Ele acredita que a próxima pesquisa, que será realizada em setembro, deve mostrar o efeito do aumento do desemprego observado a partir de dezembro sobre a solvência dos consumidores.

Solimeo destacou que entre 2006 e 2008 cerca de 20 milhões de CPFs foram consultados pela primeira vez, de acordo com os dados do SCPC, o que indica um “imenso contingente” de consumidores que buscou alguma forma de financiamento.

O economista da ACSP ressaltou que a maior participação da baixa renda no total da inadimplentes não significa que esta faixa da população honre menos os seus compromissos do que as demais faixas de renda. Segundo ele, este resultado indica que houve crescimento do acesso ao crédito. Ele citou estudo do SCPC mostrando que praticamente não existe diferença de comportamento em termos de inadimplência entre os novos consumidores – em que predomina a baixa renda – e os antigos.

Segundo a pesquisa, o carnê de loja é a maior fonte de financiamento, com 34% dos débitos. Em seguida, estão os empréstimos (crédito pessoal) e cartão de loja, com 29%; cartão de crédito, 19%; e cheque, 18%.

O levantamento mostrou que 83% dos cheques sem fundos eram pré-datados, sendo que 36% dos entrevistados tinham mais de seis registros e 13% mais de vinte cheques sem fundos. Dos entrevistados, 17% fizeram empréstimo consignado, dos quais 49% afirmaram que foi para o pagamento de dívidas, 15% para compra de produtos, 15% para ajudar a família e 13% para reformar imóvel. Entre os que tomaram o empréstimo consignado, 58% afirmaram que esse financiamento foi responsável pela inadimplência.

O levantamento da ACSP mostrou ainda que 52% dos entrevistados pretendem quitar suas dívidas nos próximos 30 dias e que 73% devem utilizar recursos retirados do salário, o que exige corte do consumo ou do lazer.

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