30% do 13.º salário é usado para pagar dívidas

A primeira parcela do 13.º salário nem bem caiu nas contas dos brasileiros – as empresas tinham prazo até sexta-feira (30) para efetivar o pagamento – e já tem destino certo: uma parte, cerca de 30% segundo pesquisas de opinião, deve ser utilizada no pagamento de dívidas. O restante deve ir para as compras de final de ano, lazer, reforma da casa e construção, além da poupança. Só no Paraná, o salário extra deve injetar R$ 3,3 bilhões na economia, segundo estimativa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), beneficiando cerca de 3,8 milhões de pessoas. Em todo o País, serão R$ 64 bilhões.

De acordo com o economista Cid Cordeiro, do Dieese-PR, no ano passado a intenção era destinar 50% do 13.º salário no pagamento de dívidas. O percentual menor este ano não significa, porém, que os brasileiros estejam menos endividados. ?As pessoas continuam endividadas, mas o índice de confiança aumentou, ou seja, elas estão acreditando mais no cenário econômico, no futuro, e preferindo dar outros destinos ao 13.º?, apontou Cordeiro.

Conforme dados do Banco Central, a inadimplência também não teve aumento significativo: ela cresceu 1,20% este ano no caso do cheque especial, 1,15% no crédito para aquisição de outros bens, 0,19% na aquisição de veículos e reduziu 0,82% no crédito pessoal. ?Não há indicativos mostrando que o grau de endividamento aumentou?, explicou.

Isso não significa que o brasileiro deva usar o dinheiro extra em compras e lazer. Pelo contrário. ?Do ponto de vista financeiro, utilizar o 13.º salário para o pagamento de dívidas é a decisão mais sensata?, comentou o economista. Quem não puder quitá-las, uma alternativa é trocá-las por outras com taxa de juros menor. Uma mudança simples é optar pelo crédito pessoal – que tem taxa de juros média de 51% ao ano – ao invés do cheque especial (taxa anual de 140%) e do cartão de crédito (300% ao ano).

O economista reconhece, porém, que é difícil olhar para o salário extra apenas do ponto de vista financeiro. ?Tem que negociar com a família, eleger prioridades. E na hora das compras tem que avaliar o desejo com a utilidade do produto e, principalmente, pesquisar os preços?, orientou o economista, salientando que os sites de busca são interessantes porque oferecem um parâmetro de preços ao consumidor e aumenta o seu poder de negociação no comércio.

Os gastos extras no início do ano – como matrícula escolar, uniforme, impostos como IPTU e IPVA – também não podem ser esquecidos. O ideal, de acordo com o economista, é que as pessoas façam uma reserva para estes fins.

Felizmente o governo do Estado acabou retirando a proposta de aumento para o Imposto sobre Propriedade de Veículo Automotor (IPVA) que tramitava na Assembléia Legislativa. Seria um ônus a mais no bolso do consumidor, já que o projeto previa aumento de até 50% em alguns casos (como os veículos de aluguel). Assim, o imposto permanece em 2,5% do valor venal do veículo e o desconto para pagamento à vista deve ser mantido em 15%.

Se depois de todos esses gastos ainda sobrar dinheiro, a aplicação é a melhor opção. ?O difícil será fazer tanta coisa com o 13.º salário?, reconheceu Cordeiro. No Paraná, o rendimento médio mensal do trabalhador é de R$ 1,1 mil.

Destino do extra depende do perfil de cada um

De acordo com o perfil de cada beneficiário, algumas dicas podem ser essenciais no momento de definir o que fazer com o pagamento extra e evitar cair nas armadilhas do consumo. Veja o que recomenda Marcos Crivelaro, professor PhD da Faculdade de Informática e Administração Paulista, da Faculdade Módulo e especialista em matemática financeira.

Endividado: a recomendação única é a quitação das dívidas, principalmente das mais onerosas, como cartão de crédito e cheque especial. Pessoas que pagam apenas o mínimo do cartão de crédito e ficam penduradas no cheque especial estão cometendo suicídio financeiro, já que as taxas de juros dessas modalidades de empréstimos são altíssimas. É imperioso gastar apenas uma parte do 13.º e poupar a outra para fazer frente aos gastos de início de ano. Se não tiver como resistir aos apelos promocionais, uma alternativa é comprar apenas à vista.

Festeiro: nessa época, as tentações são enormes: pernil, peru, panetone, vinhos, champanhes, viagens, etc. Todos querem comer de tudo e em grande quantidade. É muito bom comemorar, passear, mas evite começar o ano com dívidas. Escolha os presentes e comidas imprescindíveis. Busque também opções mais econômicas: frutas da época, bebidas nacionais e viagens mais curtas.

Planejador: os mais precavidos sabem que o ?cobertor é curto? e, mesmo tendo mais dinheiro no bolso, também sabem que enfrentarão gastos adicionais por conta do Natal, fim de ano e dos impostos relativos a carros e imóveis. Analise o que é possível e vantajoso pagar à vista (o que não for urgente deve ter a compra adiada) e barato de ser parcelado, não ultrapassando o máximo de seis prestações.

Conservador: quem resistiu às tentações e conseguiu guardar uma parte dos rendimentos deve investir. Possuindo um perfil conservador, as opções são cadernetas de poupança e fundos de renda fixa. Qual escolher? Se a rentabilidade mensal do fundo de renda fixa for baixa, próxima a 0,7 % ao mês e possuir taxa de administração superior a 2% ao ano, opte pelo investimento em caderneta de poupança. É mais seguro e mais simples.

Arrojado: para quem tem interesse de obter boa rentabilidade no médio e longo prazos nessa época do ano, uma possibilidade interessante são os planos de previdência privada multimercado. Essa categoria permite a aplicação de até 49% do patrimônio em ativos de renda variável, como ações. Existe, sim, um risco de oscilações, já que grande parte será destinada à renda variável. Mas, como a previdência trabalha normalmente com períodos acima de 10 anos, as quedas pontuais perdem sua importância ao longo do tempo. Além de obter a rentabilidade das ações, no caso do plano de previdência PGBL, quem fizer a declaração de Imposto de Renda poderá abater 12% dos seus rendimentos anuais. (LS)

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