O consumidor sofre uma pressão nos alimentos até então não registrada nas décadas recentes. A inflação acumulada neste ano e nos últimos 12 meses está com as maiores evoluções desde a implantação do Real, em 1994. A pressão é tão forte que supera a das crises de 2003 e de 2008, até então os maiores picos de alta neste segmento.
A Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) divulgou quarta-feira (4) alta de 2,51% nos alimentos em outubro, o que elevou o acumulado do ano para 11,26% e o dos últimos 12 meses para 16,41%. A inflação média do mês passado foi de 1,19%, e a acumulada no ano, de 3,72%, segundo a Fipe, que coleta preços no varejo da cidade de São Paulo.
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O pico deste ano, embora tenha praticamente os mesmos itens de pressão da inflação das crises anteriores, difere nos motivos. Nas anteriores, a pressão era mundial. Na atual, é interna. Embora o país continue produzindo safras recordes todos os anos, o excesso de exportação, devido ao câmbio favorável, reduz a oferta interna e pressiona os preços.
Em 2008, a crise mundial dos alimentos foi provocada por secas, oferta menor e aumento de custos na produção. Renda menor e queda no consumo levaram um número maior da população mundial para a linha da pobreza.
Em 2003, também por quebra de safra e abastecimento mundial precário, os preços subiram. Na lista das altas no Brasil, naquele ano, arroz e óleo de soja, provocadas pela elevação do dólar.
A história se repete neste ano, mas com intensidade ainda maior. Nos últimos 12 meses, os consumidores paulistanos pagaram 63% mais pelo arroz, 96% mais pelo óleo de soja e 46% mais pelo feijão.
Toda cadeia
O reajuste de preços neste ano se estende para praticamente todos os setores da alimentação, muitos deles com a oferta interna reduzida devido às exportações. Outros tiveram a produção afetada pela pandemia.
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A soja, o carro-chefe da agricultura brasileira, já soma exportações recordes de 82 milhões de toneladas neste ano. Com isso, a escassez interna da oleaginosa elevou os preços inclusive dos óleos vegetais concorrentes. Os de milho e de girassol tiveram reajustes de 30% e 28%, respectivamente, nos últimos 12 meses.
O recorde de exportação de proteína animal também traz consequências para o bolso do consumidor. Em 12 meses, a carne bovina subiu 38%, a suína ficou 48% mais cara, e a de frango teve reajuste de 27%.
As principais elevações de preços ocorrem nos itens mais populares, consumidos pela população de renda menor. No caso da carne bovina, vem de acém, músculo, paleta e fígado. Todos tiveram altas superiores a 45% nos últimos 12 meses.
O açúcar, embora em ritmo menor, também sofre o efeito das exportações. O produto ficou 13% mais caro nos últimos 12 meses na cidade.
O mercado de leite tem um desequilíbrio entre oferta e demanda. Com isso, os preços no campo são recordes neste ano e registram aumento real de 57%, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
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O aumento dos produtos no campo provoca aceleração também nos industrializados. Os derivados de carnes e de leite tiveram reajustes de até 46% de novembro de 2019 a outubro de 2020.
Frutas e legumes também puxam a lista dos maiores gastos dos consumidores. As altas foram de 13% e 17% neste ano, bem acima da inflação média de 3,7%. Efeitos da pandemia na produção e da alta do dólar, que resulta em aumento de custos, sustentam a alta.