Economia estagnada

Talvez falar em economia brasileira estagnada seja deixar envolver-se pelo pessimismo. Mas no terceiro trimestre deste ano foi registrada uma expansão de 0,5%, um crescimento muito abaixo do desejado, do necessário e do que foi alcançado pela maioria dos países do mundo. Maior tem sido o crescimento, inclusive, dos países latino-americanos, do Terceiro Mundo, dos em desenvolvimento e da economia global. Esse 0,5% de aumento foi calculado em cotejo com o que crescemos no segundo trimestre, conforme dados do IBGE.

Apesar de insatisfatória, a expansão da economia aconteceu de acordo com as previsões feitas por vários analistas respeitáveis, o que foi registrado pela grande imprensa. Eles esperavam um crescimento entre 0,4% e 0,65%. No segundo trimestre, o PIB (Produto Interno Bruto), soma de tudo o que o Brasil produz, cresceu somente 0,4%. O resultado pífio detectado deveu-se principalmente ao mau desenvolvimento dos setores de serviços e indústria. Estes avançaram somente 0,4% e 0,6%, respectivamente.

No ano passado já ficamos corados com a revelação de um crescimento de 3,2%. Um desempenho só inferior ao do Haiti, um dos países mais pobres do mundo. Para este ano as previsões são de uma alta de 2,2% a 3,6%. Esse crescimento microscópico deve ser cotejado primeiro com os discursos oficiais, que falam num Brasil que anda às mil maravilhas e pelas próprias pernas. E também considerado tendo em vista as nossas necessidades, dentre elas a geração de grande número de empregos, atendimento do crescimento vegetativo da população brasileira e o acúmulo de carências à espera de soluções. O mundo cresce 5%, 6%, 7% e até 8% ao ano, enquanto por aqui há quem se gabe de colher um crescimento de pouco mais de 3%.

A consultoria independente Austin Rating considera que, se confirmados os resultados ora anunciados, o Brasil mais uma vez terá ficado atrás do Haiti, exibindo um desempenho que será o pior entre os emergentes. Para que o Brasil tenha um desenvolvimento econômico de 3,2%, este ano, como prevê o Ministério da Fazenda, seria necessário ter uma expansão, no quarto trimestre de 2006, de 5,2%. Desde o ano 2000 o Brasil não consegue uma taxa como essa. E 3,2% seria um crescimento ridículo. Esse percentual microscópico, que por várias razões não deve ser encarado como desenvolvimento, acontece apesar da baixa dos juros. A taxa básica de juros da economia brasileira (Selic) média do terceiro trimestre foi de 14,6%, contra 19,7% no mesmo período do ano passado. Ainda agora o Copom do Banco Central reduziu a Selic de 13,75% para 13,25%. Se levarmos em consideração que este é o menor juro do governo Lula, olharemos a decisão com otimismo. Entretanto, se considerarmos que a inflação está sob controle e descontada, restam juros reais de 8,7%, veremos que ainda somos o país do mundo onde o dinheiro é mais caro.

E dinheiro caro inibe os investimentos. Disso resulta menos produção, menos impostos e menor geração de empregos. Também, segundo analistas, a economia brasileira ainda carece de mudanças estruturais como o aumento dos investimentos públicos, principalmente em infra-estrutura, marcos regulatórios e implementação de reformas, além de cortes nos gastos do governo. O capital, para ser aplicado no desenvolvimento, exige um custo razoável, regras seguras e definidas e um governo que gaste pouco, para que não precise esmagar o setor produtivo com exagerados impostos e competir na captação dos recursos disponíveis no mercado financeiro.

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