Como na canção, a gente não quer só comida. Quer bebida também. Assim, além do Fome Zero, programa que deveria ter sido lançado durante a visita do presidente Lula e seus ministros a três áreas brasileiras onde a extrema pobreza envergonha a cidadania, um outro programa já está sendo anunciado pelo ministro extraordinário da Segurança Alimentar, José Graziano. Chama-se Sede Zero. Ele pretende revogar definitivamente a impiedosa natureza do semi-árido, proporcionando água para todos.
Como será esse outro programa, filhote do primeiro, saberemos por certo em breve, inclusive porque nessa empreitada está também empenhado o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, que já bolou o seu “Proseca” enquanto trata da ressurreição da Sudene. Esta superintendência, como se recorda, foi fechada por envolvimento na malversação de fundos públicos, o que não aconteceu com o DNOCS – o mais antigo órgão de combate às agruras da falta d?água, embora também padeça do mesmo mal.
Por enquanto, não se tem idéia clara de como será, exatamente, o Fome Zero. É uma idéia central à qual, além da disposição brasileira, vão se aderindo outras, como essa de motivar as cooperativas agrícolas a doar milhares de toneladas de alimentos. Ou, como já se prontificaram os meios de comunicação e agências de publicidade, o propagandear gratuitamente da boa-ação.
Segundo procura explicar o ministro Graziano, o programa não pretende ser assistencialista. Mas, segundo também afirma ele, além do dinheiro para comprar alimentos, cada família terá ajuda de outras áreas do governo: o Ministério das Cidades, por exemplo, entrará com a parte dos recursos para que cada família possa reformar seu barraco e arrumar o telhado, com calhas que possam também capturar a água da chuva que, por sua vez, será levada para uma cisterna projetada pelo Ministério do Meio Ambiente. Essa água potável, garante Graziano, seria suficiente para beber o ano inteiro.
Dos moradores analfabetos habitantes sobre a mesma área, cuidará o Ministério da Educação. Dará atenção especial à qualidade da merenda escolar que, por sua vez, terá no Ministério da Saúde, entre outras preocupações que lhe são inerentes, a garantia de conteúdo saudável. Mais órgãos serão envolvidos no programa Fome Zero, cujo lançamento motivará outra viagem – agora já sem Lula, mas com todos os ministros envolvidos – à localidade de Guaribas, onde o presidente não foi por razões de segurança e economia.
Como em seu discurso de posse o presidente Lula da Silva prometeu que também o combate à corrupção está entre suas metas prioritárias, espera-se que, com tantos órgãos envolvidos na mesma tarefa, não venham a acontecer superposições na aplicação de recursos. Seria lamentável, pois existem outras prioridades esperando sua vez e, naturalmente, recursos da União. Mas exatamente pelo volume de gente envolvida, e à vista das generosas doações que já brotam de inúmeras iniciativas, um outro cuidado se nos parece essencial. Basta acontecer uma daquelas já conhecidas denúncias de apodrecimento de alimentos doados em algum paiol, por culpa da burocracia, e a credibilidade do programa (e do governo) irá água abaixo.