A intenção manifestada pela União de entrar na polêmica do pedágio que cresce no Paraná é oportuna e já vem tarde. Afinal, as estradas em questão são rodovias federais que, em razão do precário estado em que se encontravam, foram transferidas para a administração do Estado que, por sua vez, concedeu-as a empresas privadas. Estas, mediante a cobrança de pedágio, se responsabilizaram pela sua conservação e melhorias.
O que não pode é continuar esse impasse que não agrada a usuários, governo e concessionárias e que trouxe ao teatro das operações e escaramuças também o MST – Movimento dos Sem Terra, cujos militantes literalmente passaram a ocupar as praças de pedágio.
Alguns pingos precisam ser colocados nos diversos “is” da questão. Em primeiro lugar, não interessa saber se o MST está agindo sob ordens, convite, sugestão ou simpatia do governador Roberto Requião. Uma decisão judicial manda que eles desocupem as praças tomadas, enquanto suas lideranças respondem que não arredam pé porque contam com o apoio da maioria da população. É desobediência que não deve prosperar. Além disso, a história pode não ser bem essa. Assim como se a determinação judicial não for executada falece de fundamento a afirmação do secretário da Segurança, Luiz Fernando Delazari, segundo a qual “este é um Estado de lei e de ordem, que se caracteriza pelo cumprimento da lei”. Faz tempo que, no caso, nem lei nem ordem está valendo. Infelizmente.
Sempre defendemos aqui a tese segundo a qual o preço dos pedágios estava exagerado. Pior ficaria com o reajuste que, em alguns casos, supera a casa dos 30%. Aliás, fomos além, ao observar que as estradas pedagiadas eram obras já pagas pelos contribuintes, que não podiam ser submetidos a nova sangria apenas porque o Estado fora irresponsável na aplicação dos recursos e no cumprimento de seus deveres.
Também defendemos o direito (e o dever) do governador Roberto Requião de cumprir suas promessas de campanha – uma delas, “ou o pedágio abaixa, ou acaba”. Promessas de ontem, ungidas pelo voto, não podem ser entendidas, hoje, como ações de caráter meramente político, como alhures se tenta fazer ver. Trair o povo é tudo quanto fazem os governantes que abandonam o discurso através do qual granjearam o apoio necessário para subir os degraus do poder.
Nessa história da concessão das rodovias federais paranaenses à iniciativa privada há um pouco de tudo. E, diante do resultado de tumultuadas sindicâncias ou auditorias, não se pode descartar o oportunismo das concessionárias que, em determinada época, chegaram a concordar com pedágios menores apenas para não prejudicar (ou melhor, para ajudar) campanhas eleitorais outras que coincidentemente casavam com seus interesses. Apegam-se elas à letra fria de contratos celebrados em outras épocas, sem prestar atenção à realidade atual e aos danos que causam à economia do Estado, submetida ao escorchante pedágio que em muitos trajetos chega a custar mais que o próprio combustível.
Com tantos interesses em jogo, e diante dos problemas que a questão criou, está criando e poderá ainda criar aos paranaenses, é oportuno que a União assuma a sua parte no conflito, chamando o necessário bom senso de todos (e assumindo a sua fatia de responsabilidade), antes que a radicalização inevitável nos encaminhe para uma situação insustentável, onde só a força resolve. A guerra do pedágio, que não pode esfolar o bolso do povo, também não pode passar dos limites atuais.