E o trem?

É curioso que, com tão poucos quilômetros de ferrovias para tão grande vastidão territorial, exatamente as obras de construção de uma ferrovia venham a polarizar os últimos debates para a eleição, neste domingo, do futuro governador do Paraná. Sem entrar no mérito da polêmica que acabou gerando acusações de parte a parte entre Roberto Requião e Alvaro Dias, o assunto permite-nos a colocação de uma consideração básica e necessária: nem aqui, onde se procura saber de quem é o mérito da construção de alguns quilômetros de binários (a Ferroeste), nem no âmbito nacional, a opção ferroviária mereceu alguma consideração mais funda nas propostas de governo dos candidatos alijados do processo no primeiro turno ou daqueles que estão em julgamento neste segundo turno.

Cobrança de pedágio em rodovias sucateadas à parte, pouco se ouviu falar em programa de estradas. Muito menos estradas ferroviárias, cuja quilometragem um dia já constituiu orgulho nacional. Continua tabu intransponível a necessária apuração das responsabilidades pelo crime de atirar fora um patrimônio tão valioso de milhares de quilômetros de ferrovias Brasil afora.

Na Europa, países do Velho Mundo disputam em pleno século XXI os melhores, seguros e mais rápidos trens. Verdadeiras fortunas são aplicadas em viadutos, pontes e túneis. Na Alemanha, França, Inglaterra e outros lugares visitados por turistas de todo o mundo, o sistema funciona com precisão suíça. O governo italiano, por exemplo, anunciou recentemente o início da construção de uma linha super-rápida entre Bolonha e Milão, que, ligada a outras em curso, permitirá chegar a Roma, de qualquer ponto da península, em questão de três horas. Será, segundo se anuncia, uma forma de criar uma real concorrência entre os meios terrestres e os aéreos. Viajar de avião, considerando-se o tempo nos aeroportos, pode levar mais tempo que andar de trem.

Apesar da importância que o trem assume nas economias do primeiro mundo, nos programas eleitorais do horário gratuito dos presidenciáveis, a estrada de ferro apareceu, quando muito, para ilustrar cenários. O PT, por exemplo, mostrou as belas paisagens da ferrovia entre Curitiba e Paranaguá, na Serra do Mar – uma obra de bitola estreita realizada há mais de cem anos, completamente ultrapassada, mas a única que ainda funciona, transportando turistas e mercadorias para o porto. Mesmo assim, não deu bola para o abandono de todo o equipamento instalado ao longo da estrada. Nem mesmo o crime que continua a se perpetuar País afora com o abandono de grandes ramais ferroviários, um dia construídos com dinheiro emprestado no exterior, mereceu alguma consideração dos candidatos.

Torcemos para que do confronto entre Requião e Alvaro – além de esclarecimentos sobre números conflitantes – nasça uma nova vertente no discurso ferroviário até aqui abandonado. Afinal, nem só de rodovias vive a humanidade. A construção de ferrovias num país continental como o nosso é o ideal para transporte de mercadorias e passageiros, alavancando a economia pela via também do turismo.

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