A opção da estratégia do governo norte-americano para dominação mundial e combate ao terrorismo, fortemente marcada pela unilateralidade, ilegitimidade e ilegalidade, mostrou sua fragilidade nesta semana.
Os atentados suicidas a complexos residenciais de estrangeiros em Riad, capital da Arábia Saudita, no dia 13 de maio, não só deixaram a marca da morte e dos ferimentos como também suscitaram inúmeros questionamentos.
A primeira manifestação terrorista depois da guerra do Iraque demonstra que o mundo está vivendo um ciclo vicioso, em que as partes envolvidas não mudam suas opções e convicções, ainda que as conseqüências sejam desastrosas e envolvam a vida de inúmeros cidadãos inocentes.
Desde os atentados de 11 de setembro, o governo americano adotou uma política de combate ao terrorismo extremamente radical, que engloba, dentre outras medidas, o uso da força para a ocupação de territórios e a destituição de lideranças e governos que, em sua opinião, protegem ou financiam grupos terroristas.
Tais medidas, por sua vez, são tomadas pelos grupos terroristas como justificativas para novos ataques, cujo alvo são exatamente bens e cidadãos ocidentais. As relações dos EUA com a família real da Arábia Saudita, país que sedia importantes locais da cultura islâmica, como Meca e Medina; o domínio norte-americano no Iraque, onde se encontram cidades sagradas para os xi-itas, como Najaf e Karbala, além de Bagdá; e, ainda, a destruição e dominação do Afeganistão, certamente influenciaram na realização dos acontecimentos desta semana.
Ora, mais atentados ocasionarão automaticamente mais recrudescimento e fortalecimento da tática norte-americana de combate ao terrorismo, dando mais munição para o governo Bush convencer, interna e internacionalmente, quanto à necessidade de investimentos na indústria bélica e na conveniência da doutrina dos ataques prévios. E isso gerará ainda mais ódio no oriente, em relação ao ocidente.
O cenário se mostra pessimista. São poucas as perspectivas de efetivamente se acabar com os ataques terroristas. O governo americano continua a ignorar o que os fatos ensinam: o fim do terror passa necessariamente pelo diálogo e não pela intransigência; pela inteligência e não pela força, pela cooperação entre os países e não pelo unilateralismo.
Tatyana Scheila Friedrich é advogada, mestre pela UFPR, membro do Nupesul (Núcleo de Pesquisa em Direito Público do Mercosul/UFPR) e professora de Direito Internacional Público no curso de Direito das Faculdades Curitiba e nos cursos de graduação e pós-graduação em Relações Internacionais da Universidade Tuiuti do Paraná – UTP.