Não parou o crescimento. A retomada vai existir. Está sendo esta a preocupação do governo depois que o Comitê de Política Monetária – Copom resolveu esfriar os ânimos de todos, ao manter inalterada a política de juros neste início de ano. Pela primeira vez, há quase seis meses, os juros não caem, interrompendo assim a lenta e gradual descida, descrita como esperta prudência pelo presidente Lula. A decisão contrariou expectativas, mantidos que foram nos 16,5%. Um balde de água fria na cabeça de todos os que acreditavam que o discurso desenvolvimentista da virada do ano era para valer.

Cadê o espetáculo de crescimento? – a pergunta que ecoou quase incontinenti de norte a sul é pertinente. Afinal, o governo, através do Banco Central, sinaliza mais vantagens para a especulação em detrimento dos investimentos, da produção e da geração de empregos.

É para dar breque à bolha inflacionária que estava tentando se reinstalar solertemente no tecido da economia – explicam os exegetas do governo. Logo, logo, os juros continuarão a baixar, asseguram fontes do Planalto. Mas, e daí a bolha, já antecipadamente advertida e notificada, não haverá de voltar?

Mais que impopular, a medida despertou a ira de muita gente. A começar pela classe empresarial tupiniquim. O empresário Antônio Ermírio de Moraes, por exemplo, resumiu tudo ao sentenciar: “É mais do mesmo”. Isto é, mais evidências da mesmice de antes. “Trata-se da manutenção do sistema financeiro. Ao se comparar os balanços dos bancos e das empresas, dá até vergonha da diferença brutal”, observa o arguto empresário, para quem a decisão do Copom será um “dificultador” a mais para quem investe na produção. E o setor produtivo – repete ele – “é o único que pode gerar mais empregos, mais exportações e investimentos”. Não é isso que o presidente Lula, agora em périplo pela conquista dos mercados das Índias, quer?

Sem papas na língua, outros empresários disseram mais. O comandante no Brasil do poderoso grupo português Sonae, Belmiro Azevedo, afirma que nesse contexto “nem cogitamos fazer novos investimentos no País”. Em encontro casual com o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, ele já havia dito que todos os investimentos aqui feitos tiveram, até agora, retornos negativos, e que assim não dá mais. Pior agora. “Temos compreensão com a política monetária do governo Lula – disse – mas essa compreensão tem limites, pois ela não paga os juros aos bancos.”

No Brasil – essa é uma triste constatação – ganha-se muito mais na ciranda financeira do que no setor produtivo. E fica sempre difícil baixar os juros quando o sistema financeiro ganha sem trabalhar. O governo brasileiro precisa parar de acelerar e meter o pé no breque ao mesmo tempo.

Além dessa indecisão do Planalto, que desfaz com atos concretos o que diz e repete no discurso gongórico, há outros fatores a complicar nossa permanente candidatura à atração de capitais e investimentos internacionais. Aqui “o sistema judicial não funciona, o sistema fiscal é deficiente, os encargos trabalhistas são elevados e há, ainda, a política monetária”… há, também, a elevada sonegação fiscal, aliada à corrupção. Azevedo assegura que essa visão nada otimista sobre a nossa realidade é, infelizmente, compartilhada tanto pelos empresários portugueses quanto espanhóis. Provavelmente, outros mais, de além e aquém-mar.

Inflação, de fato, não queremos mais. Mas o governo (que ainda manda de fato sobre o Banco Central) precisa acertar o rumo do porto de chegada. Sem norte, não há confiança no timoneiro. E o espetáculo poderá ser convertido em tragédia.

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