A segunda-feira era azul, mais do que de costume. O ar estava mais limpo, e o sol dos últimos dias de inverno brilhava forte. Isso porque Curitiba entrara na confraria das cidades que ficavam um dia “sem carro”, na verdade, com menos carros. Mas era uma iniciativa nobre, já que até mesmo o prefeito se animara a encarar um ligeirinho para chegar ao Centro Cívico. E até foi sentado, muito tranqüilo, como nós sempre esperamos que estejam nossos governantes.
Mas veio a terça… E aí tudo voltou ao normal, aqueles engarrafamentos terríveis, ruas entupidas de carros e de motoristas à beira de um ataque de nervos. O ar estava mais cinza, os ônibus estavam lotados, e eu acredito que o prefeito não acharia um lugar para sentar no ligeirinho, nem pessoas solícitas a ponto de deixá-lo se acomodar. E, com certeza, ele chegaria no Centro Cívico muito mais nervoso que o normal.
Ficou provado no Dia sem Carro que Curitiba tem o melhor sistema de transporte coletivo do País, quiçá do mundo. Em períodos de sete minutos, passavam cinco expressos pelas canaletas, um recorde. Mas nos dias com carro o sistema mostra claros sinais de enfraquecimento, da falta de previsão populacional e de procura do serviço, que acabam fazendo que as pessoas que utilizam os ônibus saibam todo dia como é ser uma sardinha em lata.
Que atire a primeira pedra quem nunca sofreu nos biarticulados que cruzam a cidade. Nos horários de maior demanda, não há um aumento significativo no número de ônibus, e isso faz com que todos eles estejam abarrotados, e com que a população tenha mais um momento de estresse no já estressante cotidiano de uma grande cidade.
Sim, porque não é só sofrer com o aperto. Mas com a preocupação de ter seus pertences furtados lá dentro, de enfrentar hordas de jovens que entram sem pagar e se julgam no direito de aprontar dentro do ônibus e, para as mulheres, ainda há a preocupação de não serem assediadas por engraçadinhos que imaginam que todas que estão de pé querem, no final das contas, ser a “dama do lotação”.
Para completar, há a incrível falta de sincronia dos sinais, principalmente na região central. Isso não só nas canaletas, mas também em ruas de tráfego intenso. Chega-se ao ponto de, na Avenida Sete de Setembro, sinais paralelos estarem com avisos opostos, o carro anda, mas o ônibus pára. Com essa “desafinação”, o trânsito só aumenta, e a eficiência é jogada para o lixo.
O transporte coletivo é uma marca de Curitiba, e tem até valor sentimental para os curitibanos, que se inflam quando escutam elogios fora daqui. Por isso a preocupação das autoridades tem que ser maior, porque falhar em um ponto tão importante machuca a alma local.
E não é difícil corrigir esses erros. É só ter vontade, não vontade política, mas sim o desejo de melhorar a vida de quem trabalha todo dia, que necessita do ônibus e sonha com condições humanas de transporte na hora que vai para casa. E, acima de tudo, não pensar na melhora do aparelho público apenas com desejos eleitorais.
Cristian Toledo
(globalizacao@pron.com.br) é repórter de Esportes em O Estado.