Alguém que é definido como “o braço direito e esquerdo, a perna direita e esquerda, o coração e o pulmão do (ministro) José Dirceu” – o mais poderoso homem do governo de Lula – foi demitido sumariamente das altas funções que ocupava, a de subchefe da Assessoria Parlamentar da Casa Civil, que responde diretamente à Presidência da República. Além de um subordinado próximo e dedicado, era, de longa data, amigo pessoal do ministro e chegou a morar em sua casa. Tinha trânsito livre no Executivo e no Congresso Nacional e era atuante desde o tempo do impeachment do ex-presidente Collor de Mello.

Waldomiro Diniz foi pego com a mão no dinheiro sujo dos jogos, incluindo o do bicho. Coisa – dizem – graúda. E para graúdos. Teria carreado para os cofres eleitorais do PT e adjacências alguns sacos de dinheiro vivo. Com tantos amigos importantes, fica difícil acreditar no que querem que acreditemos agora que a denúncia está em fitas com imagens de boa qualidade, isto é, que agia sozinho e que ninguém sabia de seu lado feio.

Bombeiros de todos os lados estão empenhados em apagar um incêndio que mal começou. Águas e mangueiras fizeram um cerco ao redor do ministro-chefe da Casa Civil, que pode até sair dessa sem ser queimado. Mas ele nunca mais será o mesmo. As suspeitas se espalham também para outras áreas e, para se ter uma pálida idéia, aferroam ao mesmo tempo governos de Brasília e do Rio de Janeiro – ali compreendidos pelo menos três importantes nomes: Garotinho, sua mulher Rosinha e a rezadeira ex-ministra Benedita da Silva em seus tempos de chefe de Executivo.

Fica difícil imaginar, por enquanto, desde quando Diniz cumpria um ritual de homem sem filiação partidária para melhor transitar, fala mansa e rosto colado com seus interlocutores, entre gente de vários partidos. Já se afirma que vem desde os tempos em que Dirceu era o presidente do PT. Provavelmente já da primeira campanha derrotada de Lula. Aprendiz de PC Farias (o tesoureiro de campanha de Collor, transformado em símbolo de todas as maldades da República), Diniz pode ter sido melhor e mais esperto que o mestre. Pelo menos durou bem mais que ele.

E agora, José? Se precisa ir além das investigações oficiais anunciadas pelo Planalto, assim que se viu emparedado por uma denúncia sem possibilidade de tergiversações? Claro. O que está sendo visto, provavelmente, é apenas a ponta de um enorme, imenso iceberg. Ninguém consegue enganar tanta gente durante tanto tempo, nem mesmo ficar sozinho num negócio em que tantos são convidados a participar para que ele se realize no silêncio da cumplicidade geral. Diniz não pode ser o único bode expiatório de um crime para o qual concorreram corrompidos e corruptores de face desconhecida, achacados e achacadores de calibres diversos.

Se fosse em outros tempos, o PT estaria nas ruas com a bandeira de uma CPI para investigar toda a lama que aí está. E teria nosso incondicional apoio. Não precisa usar o mesmo discurso. Mas o caso de Santo André e o caso Diniz, que explode como uma bomba em paiol fechado, constituem argumentos suficientes para a instalação de uma funda e completa investigação parlamentar, paralelamente a esta policial que está em curso. O núcleo mais central do governo acaba de ser golpeado de morte. E para que sobreviva, só há um caminho: investigar tudo para provar o que se alega sem muita convicção.

O governo de Lula tem nas mãos uma batata quente sem precedentes. Se atirá-la para debaixo do tapete, jogará no lixo, definitivamente, todos os indicativos diferenciais que ainda tenta cultivar para nos convencer de que é diferente dos que atacou ao longo de 24 anos de história do partido. Que sexta-feira 13 essa última!

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