Sempre que o dólar sobe ou o real se desvaloriza, os preços da gasolina e demais derivados de petróleo (incluindo o gás de cozinha) também sobem para todos os consumidores tupiniquins. A justificativa para a alteração de preços é, invariavelmente, a necessidade de acompanhar a evolução da moeda americana, referência na importação de petróleo. Só assim seria possível manter a higidez financeira da Petrobras. Mas, embora nossa produção de petróleo já nos leve perto da autonomia, quando o valor do dólar baixa em relação ao real, os preços dos combustíveis e derivados têm o péssimo hábito de continuar nas alturas à espera da próxima alta do dólar. É o que acontece agora.
Estamos atravessando uma boa fase, dizem os analistas econômicos de plantão e áulicos do setor a serviço do governo. O chamado risco-Brasil nunca esteve tão baixo nos últimos tempos. O dólar despencou para valores anteriores à “crise do medo eleitoral” do ano passado, quando chegou a superar quatro por um. Dólar nas redondezas dos R$ 3,20 é bom para todos – exclama o ministro Guido Mantega, do Planejamento, Orçamento e Gestão, pois “diminui a pressão inflacionária e continua sendo estimulante para o setor exportador”.
No mesmo governo, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, torce o bigode, que não tem, e sentencia: abaixo de R$ 3,00, a cotação da moeda americana “acende uma luz (sic) colorida” (apenas por perguntar: poderia ser uma luz preto e branco?) Ora, o Brasil exportou bastante com o dólar valendo dois por um. Ou ainda menos. Por qual motivo tem que ser três?
Se a “luz colorida” de Furlan nada tem a ver com o mercado interno, quem está vendo cores na escuridão é o consumidor brasileiro. O dólar baixa e a gasolina, não. Idem o gás de cozinha. E aí cai no vazio também o argumento de Mantega. Como diminuir a pressão inflacionária, já em aceleração inercial? O mesmo argumento que sustenta a alta deveria valer para desfazê-la, isto é, decretar a imediata baixa dos preços na bomba e no bico final. Aí, sim, estaríamos seguindo as inexoráveis leis de mercado, onde o consumidor arca com o ônus e com o bônus das variações.
Os economistas do governo devem saber que se baixa o preço da gasolina, baixa também o preço do transporte das cargas, quase todo sobre rodas. Baixando o preço do transporte, os produtos custam menos. É claro, o governo também arrecada menos em impostos com preços menores (mas esses são outros quinhentos; numa economia aquecida, ninguém chora tostões e a carga dos impostos pesa menos), como também o preço das passagens aéreas, marítimas e fluviais, urbanas e nacionais ficam menores, aliviando o orçamento doméstico sempre na estica. Com orçamento mais leve, a felicidade é maior e também o consumo. Que faz a economia girar e produz empregos – o que interessa ao governo Lula comprometido com dez milhões deles.
É claro que estas são considerações lineares e simples, do jeito que fazem os simples do povo. Mas, simples ou não, o governo – e a Petrobras ainda é parte dele – deve uma explicação convincente para esses preços que sobem com o dólar e, mesmo que o dólar despenque, nunca descem.