O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), na segunda-feira foi escrito a quatro mãos: participaram da redação o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci, e o publicitário João Santana. Mas foi do próprio presidente a idéia de encaixar uma referência à música Rua Augusta, sucesso da Jovem Guarda.
Lula vive dizendo que as coisas não podem andar a 120 quilômetros por hora, quando alega não ter pressa para fazer a reforma ministerial ou para anunciar alguma medida ansiosamente esperada. Mas nunca havia citado a canção. Para chegar ao formato ideal do texto, Dulci e Santana – o marqueteiro da campanha à reeleição – tiveram várias conversas com Lula. Dulci deixou o discurso pronto antes de embarcar, na sexta-feira, para Nairóbi, no Quênia, onde participa da sétima edição do Fórum Social Mundial.
Ao anunciar o plano com o qual pretende marcar o seu segundo mandato, Lula queria delimitar claramente as diferenças em relação a seus colegas Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia, que defendem modelos econômicos estatizantes. Estava preocupado com possíveis analogias e interpretações errôneas do mercado financeiro, às vésperas de embarcar para Davos, na Suíça onde participará do Fórum Econômico Mundial a partir de amanhã. Como de costume, fez algumas modificações no texto.
O presidente recomendou aos auxiliares que destacassem mais o compromisso com a democracia, as liberdades civis, o esforço fiscal e a estabilidade econômica. Também quis que constasse do discurso a lembrança de que ?as soluções óbvias nem sempre são as mais fáceis?. O texto passou ainda pelo crivo dos ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Tarso Genro (Relações Institucionais) e do assessor especial de Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia.