Sirley da Silva Chaves, uma das sócias da corretora de câmbio que vendeu dólares destinados a pagar pelo dossiê Vedoin, é parente das pessoas que atuaram como laranjas para encobrir a operação. Ela é cunhada do funcionário licenciado dos Correios Levy Luiz da Silva Filho, que mora em região pobre de Magé, na Baixada Fluminense, e teve seu nome e CPF usados em contrato fictício de câmbio. Pelo menos outras nove pessoas da família também foram usadas como laranjas.
A revelação é importante porque pode levar a Polícia Federal a descobrir quem forneceu os US$ 248,8 mil apreendidos com dois petistas em São Paulo, em 15 de setembro. Eles também tinham reais, totalizando R$ 1,75 milhão destinados a pagar a família Vedoin por acusações contra candidatos tucanos.
Sirley é sócia da Vicatur, corretora sediada em Nova Iguaçu, e é casada com Samuel, irmão de Levy Filho. Seus familiares ontem admitiram o parentesco e disseram que na véspera tentaram omitir a informação por medo – o delegado federal Diógenes Curado, que apura o caso em Cuiabá, viajou até a Baixada Fluminense para ouvir a família. "Nós não sabemos como a Sirley age", afirmou ontem a cabeleireira Lucinéia Gomes, mulher de Levy Filho. Ela disse não acreditar que a cunhada do marido tenha oferecido vantagem a parentes em troca do uso indevido de seus CPFs.
O jornal O Estado de S. Paulo identificou ontem outros três nomes da família na lista de laranjas, num total de dez pessoas com relações de parentesco. Além dos sogros e do cunhado de Sirley, aparecem na lista duas sobrinhas do marido dela: Viviane e Lidiane Gomes da Silva, filhas de Levy Filho que vivem em Ouro Preto (MG). Lá também mora a mãe das duas, Maria Gomes de Aquino ex-mulher de Levy Filho, que é outra dona de CPF utilizado no saque de dólares.
Uma prima de Levy Filho e do marido de Sirley, Edicéa Gomes Vieira, também está na lista. O esquema acabou envolvendo outra família, a da mulher de Levy Filho. Foram atribuídos saques de dólares a três cunhados dele. Além de Marilcinéia Gomes e Uheliton Marcelo Gomes, também aparece na lista Marinete Gomes. Os três são irmãos de Lucinéia, que não está envolvida, e moram todos em torno da casa dela, em Magé.
Maria, Lidiane e Vivane moram no mesmo lugar, um sobrado simples no bairro da Barra, em Ouro Preto (MG), onde uma equipe da PF também esteve anteontem para ouvi-las. Fontes policiais informaram que Viviane foi a primeira a admitir o uso do CPF na operação da Vicatur. Ela é casada e descrita como uma mulher tímida e religiosa. As duas irmãs trabalham como recepcionistas de uma modesta pousada que pertence ao padrasto delas, Gerson Luiz Cotta. Ontem, Viviane não saiu de casa e seu padrasto disse que a família foi orientada pela PF a não dar entrevistas.
Procurada ontem, Sirley não quis dar entrevista. "Tudo o que eu tinha que falar, eu falei ontem (anteontem) para a Polícia Federal", disse ela, por telefone.