O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Marco Aurélio Mello, admitiu ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) poderá ter a candidatura impugnada mesmo depois de eleito caso se comprove seu envolvimento direto no caso do dossiê contra o postulante tucano ao governo paulista, José Serra. "Há um instrumental na Constituição Federal, que é a ação de impugnação ao mandato alcançado, e essa ação alcança qualquer cidadão que detenha um mandato, pouco importando que seja o presidente da República", disse o ministro, pouco antes de uma sessão comemorativa do Supremo Tribunal Federal (STF) em sua antiga sede no Rio. O ministro reconheceu também a gravidade da eventual participação de algum assessor presidencial na trama.

continua após a publicidade

"Aí se fixa um elo muito forte, e isso é ruim em termos institucionais", afirmou, apontando a possível punição: "A impugnação a quem claudicou." Apesar dessas declarações, porém, Mello pregou cautela. "Não podemos presumir o envolvimento pelo objeto em si do dossiê, não podemos partir nesse campo de presunções. Precisamos ter dados concretos. Vamos esperar", pediu. Segundo ele, a investigação "não atrapalha nada" a eleição de 1º de outubro. "Mesmo porque o candidato com registro indeferido continua em campanha, o nome já carregado, o número já carregado nas urnas, será votado." Ele estimou que as investigações da corte deverão ir até o fim de 2006 ou início de 2007 – portanto, após as eleições de outubro próximo.

Antes da solenidade, o ministro recebeu dos presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), e do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), uma cópia da representação pedindo a investigação do caso do dossiê pelo TSE, ajuizada de manhã. Ambos chegaram pregando que a corte eleitoral assumisse a investigação criminal da suspeita, alegando que a Polícia Federal não tem condições de investigar o assunto com independência por ser controlada pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.

"Queremos que o Tribunal Superior Eleitoral faça a investigação criminal, já que não confiamos na imparcialidade do ministro da Justiça", atacou Bornhausen. "Porque ele já tem demonstrado que é o advogado criminalista do presidente da República." Segundo ele, o assessor especial da Secretaria da Presidência Freud Godoy, apontado como homem que ordenou o pagamento aos suspeitos presos, "é da corriola" de Lula, tanto que recebeu telefonema do presidente.

continua após a publicidade

Tasso foi mais comedido. "Tenho plena confiança no ministro Márcio Thomaz Bastos, mas tenho certeza que as pressões que ele sofre hoje são muito grandes", declarou. "É melhor para a república brasileira, para nós todos, que essa investigação seja conduzida por pessoas totalmente isentas a pressões." Ele evitou falar em impeachment.

Ambos afirmaram que o dinheiro apreendido é de origem ilegal e se destinava a pagar o empresário "sanguessuga" Luiz Antônio Vedoin pela entrevista que deu à revista Isto É, na qual afirmou que fazia negócios com ambulâncias e emendas parlamentares já na época em que o hoje candidato do PSDB a governador de São Paulo era ministro da Saúde. Eles também afirmaram que o suposto dossiê, na verdade, não existe, constituindo-se de fotografias antigas que nada provam. Bornhausen analisou com naturalidade a possibilidade de a PF investigar Serra no caso dos sanguessugas.

continua após a publicidade