O governador paulista Geraldo Alckmin talvez seja hoje o político ativo do PSDB de maior prestígio no seu partido e no País. Em parte tal fato se justifica pelo fato de comandar o mais importante estado da federação. Também porque logrou ser reeleito quando o PT apresentou, para outros cargos, o melhor desempenho eleitoral em São Paulo. Ainda porque sua administração é cotejada com a da prefeita de São Paulo, petista Marta Suplicy, que sofre enormes tropeços, e também com a da governadora do Rio de Janeiro, estado que é considerado complemento do eixo central do País, e que vai de mal a pior.
Mas, reconheçamos, mesmo tendo muitos e grandes problemas, o governo de Alckmin e ele próprio são respeitados por seu bom senso, firmeza e acertos.
Alckmin, embora do PSDB, partido de Fernando Henrique Cardoso e do candidato derrotado à sucessão José Serra, tem demonstrado espírito de colaboração com o governo Lula. Não faltou a nenhuma das reuniões para as quais o atual presidente o convocou. Apóia as reformas, o programa Fome Zero e, se não é um adesista, pelo menos é o que se pode classificar de oposição confiável.
Na semana passada, numa frase, o governador de São Paulo resumiu sua principal crítica ao governo Lula e sua política econômico-financeira. No tom calmo em que costuma falar, disse a um repórter de televisão que é preciso não esquecer que o remédio e seu antídoto são, no fundo, compostos da mesma substância. A diferença está na quantidade. O que é remédio para um problema pode ser seu veneno, dependendo da quantidade que se administre.
Queria, obviamente, referir-se aos remédios que o governo Lula aplica aos problemas econômico-financeiros do País. Mantém os juros altíssimos, a Selic em 26,5%, elevada pela segunda vez na atual e recente administração. O superávit primário, prometido ao Fundo Monetário Internacional em 4,25% do PIB, muito mais do que prometia e obtinha o governo FHC, até foi superado e, em abril, em termos absolutos, bateu o recorde dos últimos doze anos. Atingiu, R$ 9,849 bilhões. No acumulado do ano chegou a R$ 32,683 bilhões, nada menos do que 6,53% do Produto Interno Bruto. Nos quatro primeiros meses do governo Lula, o superávit primário acumulado já representa 94,73% da meta semestral acertada com o FMI, que é de R$ 34,5 bilhões.
São doses cavalares que levaram a um recorde de desemprego, à queda nas vendas do comércio e da indústria, à redução das compras e dos investimentos, pelas altas taxas de juros, e a um perigoso início de recessão.
É desnecessário, porque por diversas vezes repetido, que toda essa política, ou seja, a aplicação dessa dose cavalar de remédios, é exatamente o contrário do que foi prometido na campanha eleitoral. E o contrário do que esperava a população brasileira. Evidente que são remédios necessários num País excessivamente endividado e com a volta da ameaça da inflação. Mas o problema, como disse o governador Geraldo Alckmin, está na dosimetria. Essa dose parece cavalar, expressão que significa aplicar num ser humano um remédio em dose recomendada para um eqüino. Assim, o remédio causa grandes sofrimentos, efeitos colaterais, quando não a morte.
É disso que reclamam o vice-presidente José Alencar, as centrais sindicais e as entidades representativas dos empresários, como a Fiesp. Mas o governo não só não recua, como se nega a ouvir as críticas que lhe fazem e até responde provocativamente a quem discorda…