Seria trágico se também não fosse cômico. É tragicômico o debate sobre quem deve tapar os buracos das estradas brasileiras. Tanto as federais quanto as estaduais estão como queijos suíços por falta de manutenção. Há exceções, mas são raras e graças a governos estaduais.
As federais são um buraco atrás do outro e, muitas vezes, é difícil identificar quanto de asfalto ainda resta.
No papel, há uma política de o governo federal entregar aos estados as BRs, estradas de sua jurisdição, para manutenção. E obrigação de repassar aos governadores recursos para pagar a conta. A justificativa é que a descentralização é mais eficiente, especialmente num país gigantesco como o Brasil. Mas há quem desconfie que, por detrás de tudo, está a incompetência de sucessivos governos federais. Os governadores reclamam, pois receberam as estradas, mas não o dinheiro. Lula acusa: mandou o dinheiro e os governadores o desviaram.
A tréplica não tarda, pois já há governadores dizendo que nada ou muito pouco receberam do governo da União. Este estaria empurrando o abacaxi para os estados, sem dar-lhes a faca para descascá-lo.
As estradas estaduais também têm seus problemas. Em alguns estados, senão na maioria, estão em péssimo estado. Muitos encontraram como solução a privatização de sua gestão com o recolhimento de recursos via pedágios. O governo do Paraná é contra, pois entende que se trata de privatização, de exploração do povo, dos motoristas e que não se justificam praças de pedágio em estradas construídas pelo Estado. Alguns sustentam que o pedágio só se admite se houver duas estradas. Uma pedagiada e outra gratuita, para que os usuários possam optar.
Acontece que existem contratos firmados entre o poder público e as empresas administradoras das rodovias e, aí, mesmo que sobrem razões para os governantes, as cláusulas contratuais têm garantido às empresas sucessivas vitórias na Justiça. Agora surge um impasse interessante porque desperta a atenção do País para os problemas das estradas e é tão escandaloso que deve arrancar, na marra, uma solução. O governo do Rio, diante da gravíssima situação da buraqueira no que deveria ser a estrada BR-101 norte, decidiu mandar tapar os buracos e entrou na Justiça contra o governo federal, pois há mais de cinco anos ele não cuida daquela importante rodovia. O governo federal mandou a polícia rodoviária impedir a operação tapa-buraco, como se estivesse dizendo: ?Os buracos são nossos?.
Afirma o órgão federal responsável que já mandou e até começou a fazer o que deveria ter feito há cinco anos, ou seja, a conservação daquela rodovia. Estrada que, afirma, ficou abandonada porque existia um projeto de privatização, também abandonado.
Em Minas, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, enfim, em todo o País há revolta contra as estradas e os usuários muitas vezes não sabem se a responsabilidade por seu mau estado é da União ou dos estados. Pior do que tudo é que nem os governos sabem ou, se sabem, estão num eterno jogo de empurra que está custando vidas e perdas materiais para os usuários.
A pergunta hoje não é ?de quem são as estradas??, mas ?de quem são os buracos??.
Uma coisa, entretanto, é certa. Sejam consertadas ou refeitas pelo governo federal ou pelos estaduais, o dinheiro será sempre do povo.
