A notícia publicada no início do ano deve alertar – de uma vez por todas – a parcela não pequena de apologistas da transgenia. A Sociedade Rural Argentina, convergência ideológico-empresarial da vetusta oligarquia agrária do país vizinho, acusou ninguém menos que a Monsanto da prática de extorsão de produtores locais de soja transgênica.
O mal-estar dos produtores argentinos derivou da incisiva ameaça feita pela multinacional de bloquear as exportações da oleaginosa, caso não pudesse auferir maior regalia financeira. Os grandes produtores do grão garantem ser ilegítima a pretensão da Monsanto, usando a expressão "confisco" para caracterizar o intento de cobrar cerca de US$ 100 milhões na safra atual.
A Monsanto quer faturar entre três a quatro dólares e meio por tonelada, à guisa de indenização pelo direito de propriedade do gene RR, sob a ameaça de reter os navios nos portos de destino ao amparo da legislação dos países onde possui registro da patente. Na Argentina não há registro de propriedade do RR, vendido aos produtores locais na forma de sementes e agroquímicos.
Indignados, os ruralistas reclamam uma posição urgente do governo do país que é terceiro maior produtor mundial de soja, afirmando que cumprem a legislação atinente e pagam pela utilização das sementes. Eles pedem todo o rigor na salvaguarda da legislação em defesa da produção agrícola e soberania comercial do país.
A legislação sobre sementes na Argentina faculta aos produtores o uso de grãos de soja transgênica reproduzida em novas lavouras, sem a obrigatoriedade de fazer qualquer tipo de pagamento adicional, como a Monsanto pretende receber.
Sendo a prática das transnacionais a mesma em qualquer parte do mundo, é bom ter as barbas de molho – por mera precaução – ante a possibilidade concreta de vermos os produtores brasileiros, em breve, replicando a bronca dos vizinhos.