São Paulo, 25 (AE) – O cardeal emérito de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, clamou hoje (25) à noite pela imediata abertura dos arquivos do regime militar. “O povo merece ser informado, por isso é preciso abrir os arquivos o quanto antes”, defendeu dom Paulo, pouco antes de participar da cerimônia de entrega do XXVIº Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, em São Paulo, no Parlamento Latino-Americano. “Apesar de saber que o presidente da República já se manifestou um tanto negativamente sobre esse ponto, eu exigiria, não só pediria, que se abrissem os arquivos porque a história é que nos explica o que se passa nos dias de hoje, e nossa evolução desde o momento das tortura e desde a reação do povo contra a Revolução, a opressão e o silêncio imposto”.
Dom Paulo era o cardeal arcebispo de São Paulo, em outubro de 1975, quando Herzog morreu nas dependências do DOI-CODI, õrgão de repressão do antigo IIº Exército. O cardeal lembrou que no dia 25, quando o jornalista foi encontrado morto em uma cela daquele departamento, imediatamente telefonou para o general Golbery do Couto e Silva, que estava em Brasília. Seguiu-se este diálogo, segundo as recordações de Dom Paulo:
– Golbery, mataram uma pessoa aqui (em São Paulo) por tortura – anunciou o cardeal.
– Não é possível – respondeu o general.
– A vítima é uma pessoa de altíssima consideração, é um jornalista da TV Cultura – insistiu Dom Paulo.
– É uma traição – disse Golbery, desligando em seguida o telefone.
Dom Paulo lembra-se que o então presidente, general Ernesto Geisel, o procurou. “Ele (Geisel) queria que eu não desse tanta importância para o fato, mas eu disse que não aceitaria aquilo”, relata o cardeal.
Dom Paulo lembrou ainda que na missa em homenagem a Herzog, na Catedral da Sé, Dom Helder Câmara dele se aproximou e comentou: “Com isso (a morte de Herzog) se abala toda a organização militar, esta morte é decisiva.”
Na entrega do Prêmio Herzog, Dom Paulo recebeu uma placa das mãos de Audálio Dantas, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, na época da morte de Herzog. “Estou aqui esta noite como alguém que carrega um peso no coração e quer ficar livre desse peso, mas não pode porque a morte do Vlado é como a morte do Cristo, é um novo período na história”, disse o cardeal.
Sobre a polêmica das fotos de Herzog, publicadas há nove dias o cardeal disse que vê o episódio como “um simples engano”. Para ele não se deve atribuir “nenhuma importância” ao caso. Dom Paulo acredita que houve “de fato uma mistura das fotografias”. Ele observou: “De toda parte a gente era fotografada, então houve essa confusão com o padre que está no Canadá, aliás não o conheci, ele nunca trabalhou em São Paulo, nunca trabalhou comigo, no entanto, conheço diversos colega dele e sei que é muito sério, e ele quer se ver livre dessa terrível humilhação a que o submeteram no Brasil”, declarou dom Paulo.
Dom Evaristo Arns pede imediata abertura de arquivos da ditadura
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