Brasília (AE) – O doleiro Antonio Oliveira Claramund o Toninho da Barcelona, detalhou hoje (20) como funcionava o esquema de financiamento irregular do PT. Em depoimento conjunto às CPIs dos Bingos, dos Correios e do Mensalão, ele afirmou que o propinoduto administrado pelo empresário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza usava a Corretora Bônus Banval, que repassava o dinheiro para petistas e seus aliados.
Toninho revelou que entre 3 de setembro e 9 de outubro de 2002 ele próprio trocou US$ 2,05 milhões por R$ 7 milhões e repassou esse valor à Bônus Banval. Contou, ainda, que os dólares foram entregues a ele por Dario Messer, a quem definiu como doleiro do PT. "Havia excesso de dólares e escassez de reais no mercado", relatou Toninho. "No período eleitoral, havia grande procura por reais, em espécie. O mercado informal não conseguia os reais para trocar por dólares."
Com a revelação de hoje, o doleiro derruba a tese – defendida pelos petistas – de que os mais de R$ 50 milhões distribuídos a parlamentares aliados do governo tiveram origem em empréstimos de Valério ao PT.
Segundo Barcelona, o dinheiro que chegou até ele poderia estar lastreado em recursos de Valério no exterior. Esse tipo de operação é comum nos casos em que as partes interessadas desejam "esquentar" dinheiro de origem ilícita, disse.
Trade link
Segundo o depoimento, o dinheiro repassado ao PT por Valério vinha do Trade Link Bank – braço do Banco Rural que opera empresas offshore no exterior. No Brasil, a Bônus Banval entregava os valores ao PT e PP, especialmente para o líder do partido, José Janene (PR).
Barcelona ressaltou que o grande responsável pela troca de dólares por reais para o PT era Dario Messer. "Afirmo que Messer é o doleiro do PT. Posso até pegar mais 10 anos de cadeia mas reafirmo isso." Toninho está condenado a 25 anos de prisão por sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Dos 64 presos durante a Operação Farol da Colina, da Polícia Federal, somente ele e Eduardo Chaves estão presos.
Toninho espera sair da cadeia e encontrar uma forma de repatriar legalmente o dinheiro que está no exterior. "Só na Espanha existem U$ 10 bilhões."
Dirceu
Barcelona afirmou que o deputado José Dirceu (PT-SP) teria relações próximas com os sócios da Bônus Banval. Segundo ele, o ex-ministro da Casa Civil era "amigo íntimo", principalmente de Enivaldo Quadrado, um dos donos da corretora.
Em resposta ao senador Demósthenes Torres (PFL-GO) – que insistiu em pedir esclarecimentos sobre a ligação de Dirceu com a corretora -, Barcelona disse que essa relação "era voz corrente no mercado" e que o assunto era muito comentado por Lúcio Funaro, dono da Corretora Guaranhuns. Dirceu contesta as declarações.
Funaro, de acordo com Toninho da Barcelona, é o verdadeiro dono da Guaranhuns, não José Carlos Batista, que chegou a depor na CPI do Mensalão. "Todo mundo percebeu que o Batista era um laranja", frisou o deputado Eduardo Paes (PSDB-SP).
Ao falar à CPI, Batista demonstrou desconhecer totalmente o que se passava à sua volta. A Guaranhuns recebeu dinheiro de Marcos Valério para repassar ao PL.
Contas
Toninho confirmou que tinha contas bancárias nos Estados Unidos, Uruguai e Suíça. Mencionou a conta-ônibus Beacon Hill e os bancos MTB Bank, Pine Bank, Commercial Bank e a Casa Bancária Lespan, no Uruguai. Além disso, admitiu que tinha conta na Suíça e chegou a ter ter uma empresa offshore nas Ilhas Virgens Britânicas.
Toninho contou que, quando operava no mercado de dólares por meio da Barcelona Tour, tinha convênio com a Associação dos Policiais Federais e, entre seus clientes, estavam os juízes Ali Mazloum e Cássio Mazloum, processados por suspeita de envolvimento com venda de sentenças.