A revista Veja desta semana publicou uma verdadeira bomba: a campanha de Lula teria sido ajudada por Cuba com uma doação de US$ 3 milhões. A revista baseia-se em declarações e indícios consistentes, porém insuficientes para constituir prova cabal da operação que seria ilegal e, se verdade, pode levar à cassação do registro do PT. Não levaria à cassação do mandato de Lula, mas sem a legenda ele ficará impossibilitado de disputar a reeleição. Os dados colhidos foram, no julgamento da prestigiosa revista, suficientes para embasar uma reportagem.
Cuba é um país pobre e não tem dinheiro sobrando, embora, quando ainda existia a União Soviética, que subsidiava a ilha caribenha, tenha gasto muitos dólares mandando tropas para lutar em outros países ao lado de guerrilheiros comunistas, como ocorreu, por exemplo, com Angola. É pública a amizade de Lula com Fidel. Assim, torna-se mais crível a estória contada, que pode virar história.
O governo cubano negou, no sábado, ter enviado dinheiro para a campanha presidencial de Lula. Em Havana, foi divulgada uma nota em que o governo de Fidel carimba a denúncia de caluniosa e assegura que jamais interferiu em assuntos internos do Brasil. Interessante a linguagem utilizada no desmentido: ?O governo cubano responsabiliza essa manobra de propaganda aos agressivos planos do imperialismo contra Cuba e Lula?. Diz ainda que as acusações ?foram feitas próximas à chegada do presidente norte-americano George W. Bush ao Brasil. O objetivo é desviar a atenção dos problemas cada vez maiores pelos quais ele (Lula) está passando, acossado por investigações de corrupção a importantes líderes de seu próprio partido (PT) e em seu círculo mais estreito de colaboradores?. Uma no cravo, outra na ferradura.
Para o embaixador de Cuba no Brasil, Pedro Núñez Mosquera, ?os que orquestram essa campanha de mentiras contra Cuba e o governo brasileiro buscam afetar as relações bilaterais entre os dois países, caracterizadas pelo diálogo fraternal, o respeito mútuo e a não-interferência em assuntos internos de nossas nações?.
Ao mesmo tempo em que a nota de Havana reconhece a crise no governo de Brasília, repete o velho chavão comunista de ação do imperialismo, campanha propositalmente desencadeada às vésperas da visita ao Brasil do presidente norte-americano e desejo de afetar as boas relações entre os dois países latinos.
Há uma crise ao redor e penetrando o governo Lula e tal fato nem Havana nega. Também existem suficientes indícios de que, para os caixas 2 de campanhas eleitorais e prováveis mensalões, veio dinheiro do exterior. A idéia de que há uma trama do imperialismo capitalista nisso tudo, imperialismo de que são acusados os estados Unidos, é que é a novidade. É uma ampliação da tese de defesa já abandonada pelo próprio PT e aliados de que se estava tentando desmoralizar o governo Lula por ser socializante e contrário aos interesses dos burgueses capitalistas nacionais. Internacionalizou-se a crise, na mais contundente linguagem dos tempos da guerra fria.
Esse novo capítulo acirrará os ânimos e introduz na peleja a comunista Cuba e o capitalista Estados Unidos, deixando o presidente Lula em papos de aranha, pois não lhe interessa abrir uma frente de combate contra o país mais poderoso do mundo e nosso maior cliente, mesmo que por Bush não dedique, como a maioria dos brasileiros, muito apreço.
