Dólar sobe 5%, fecha a 3,57 e bate recorde do Real

O dólar fechou hoje em nível recorde do Plano Real, cotado a R$ 3,575, em alta de 4,99%. A possibilidade de que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vença as eleições no primeiro turno – que voltou à tona com a pesquisa do Datafolha, divulgada no sábado – e a instabilidade no cenário externo – evidenciada pela queda das bolsas internacionais e pela alta do petróleo – pressionaram o câmbio, que acumula alta de 18,77% no mês e de 54,36% no ano.

Movimentos especulativos relacionados ao vencimento na quarta-feira de US$ 1,52 bilhão de títulos cambiais também contribuíram para o dólar superar o recorde de fechamento definido em 31 de julho, de R$ 3,47 – durante esse dia, o dólar chegou a atingir R$ 3,61.

Segundo operadores, o BC vendeu entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões, além de realizar um leilão de linhas de exportação, em que colocou mais US$ 48,8 milhões no mercado, mas não segurou a moeda, que fechou na máxima do dia. O C-Bond (título mais negociado da dívida externa) recuou 5,4%, colaborando para a alta de 9,19% do risco-país, que atingiu 2.209 pontos.

Na sexta, o dólar recuara por causa de uma pesquisa do Ibope mostrando queda de Lula, de 41% para 39%. Como o Datafolha indicou crescimento do petista e queda de José Serra (PSDB), o câmbio operou hoje sob forte pressão. “Os investidores estão cogitando a possibilidade crescente de vitória de Lula no primeiro turno, e a alta do dólar reflete essa expectativa”, disse o analista da corretora Liquidez, Fabio Fender.

Outro fator de pressão é a aversão global ao risco, como afirma o economista-chefe do banco JP Morgan, Luís Fernando Lopes. Ele destaca que os investidores estão se desfazendo de ações e bônus de empresas americanas e de países emergentes para se refugiar na segurança dos títulos Tesouro americano – hoje os juros dos papéis do Tesouro de dez anos fecharam no nível mais baixo em 44 anos. O risco de recessão nos EUA e a ameaça de guerra causaram estragos em Wall Street: o Dow Jones caiu 1,43% e o Nasdaq, 2,96%. E os contratos de petróleo para novembro subiram 2,9% em Nova York.

Para Emilio Garofalo Filho, ex-diretor do BC, a principal componente para a formação dos preços hoje é o medo. “O nível do dólar está desvinculado da realidade macroeconômica do País. Os preços não refletem os bons resultados fiscais, o superávit comercial expressivo e a redução do déficit em contas correntes.” Garofalo diz que a pressão sobre o câmbio se deve à combinação de incertezas políticas, intensificadas com o crescimento de Lula , e pelo cenário externo adverso. Garofalo ressalta ainda que os vencimentos de títulos cambiais, como o US$ 1,52 bilhão marcado para quarta-feira, também pressionam as cotações.

Na sexta, o BC desistiu de rolar os papéis, porque o mercado pediu taxas superiores a 50% ao ano. Ao não renovar os títulos, há uma opção a menos para os investidores que querem proteção cambial, o que pode aumentar a demanda por dólar em espécie. E os detentores dos papéis que vencem amanhã, liquidados pela cotação média de hoje, tentam forçar a alta do dólar, porque, quanto mais elevado o preço, maior o ganho. No fim dos negócios, circularam boatos de que a pesquisa do Ibope, a ser divulgada amanhã (24), deve confirmar a tendência apontada pelo Datafolha.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo