O mercado encerrou janeiro num clima positivo, com o dólar registrando hoje (31) a terceira queda seguida, cotado a R$ 3,518, em baixa de 1,18%. A expectativa de que uma eventual guerra entre os EUA e o Iraque não deve começar imediatamente animou bancos e empresas a continuar a desova da moeda. O bom desempenho de Wall Street, onde o Dow Jones subiu 1,37%, também ajudou.
Além disso, na disputa pela formação da cotação média (ptax) que corrige os contratos futuros de câmbio que vencem na segunda-feira, os investidores que ganham com o recuo dos preços (os vendidos) levaram a melhor. Operadores ressaltaram ainda que o Bank of America vendeu cerca de US$ 200 milhões no mercado à vista, o que contribuiu para a queda do dólar.
A decisão do Morgan Stanley de elevar a recomendação para os títulos da dívida brasileira também colaborou para o bom humor do mercado. O C-Bond, subiu 2,02%, fechando cotado a 69 50% do valor de face. O risco país, calculado com base em uma cesta de títulos da dívida, recuou 3,67%, para 1.312 pontos.
A notícia de que o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, é favorável a uma segunda decisão do Conselho de Segurança da ONU para legitimar o uso da força contra o Iraque agradou aos investidores, por indicar que um eventual conflito no Oriente Médio pode demorar mais tempo para começar.
Para o analista Hélio Ozaki, da corretora Finambrás, essa expectativa levou algumas instituções a vender dólares para embolsar os ganhos recentes;. Segundo ele, com um cenário externo menos turbulento, os investidores começaram a dar mais atenção às boas notícias no cenário doméstico, como o bom desempenho da balança comercial (que, no mês, até o dia 30, acumulava um superávit de US$ 1,111 bilhão), a expectativa de elevação da meta de superávit primário (receitas menos despesas, exceto gastos com juros) de 3,75% para algo entre 4% e 4,5% do PIB e as captações do setor privado no exterior, que acumulam neste ano US$ 2,417 bilhões.
A venda de cerca de US$ 200 milhões pelo Bank of America que está reduzindo drasticamente sua presença no País, foi um dos motivos que derrubaram o câmbio. A assessoria da instituição informou que o banco não iria se pronunciar sobre o assunto. Alguns analistas acreditam que a instituição pode ter vendido os dólares para levantar recursos para fazer frente a eventuais perdas num processo movido por cotistas que tiveram perdas em fundos de investimento geridos pelo banco. ?Esse é um possível motivo. Afinal, um banco que está saindo do País tenderia a comprar, e não a vender dólares?, disse o diretor de um banco estrangeiro.
O gerente de Câmbio da corretora Liquidez, Fabio Fender, entende que a queda do dólar se deveu em boa parte a manobras especulativas ligadas à formação da ptax, que corrigirá os contratos futuros de câmbio que vencem na segunda-feira. Além disso, o fato de o Banco Central (BC) ter rolado integralmente o US$ 1,735 bilhão de papéis cambiais que vencem na segunda-feira, também corrigidos pela ptax de hoje, que ficou em R$ 3,5258, aliviou a pressão sobre o câmbio.
Segundo operadores, a notícia de que o governo estaria estudando uma anistia tributária para estimular o repatriamento de capital de brasileiros no exterior, embora não confirmada, também teve um impacto positivo sobre o câmbio, já que pode trazer mais dólares para o País.
O chefe da mesa de câmbio do banco ING, A|exandre Vasarhelyi, ressaltou que janeiro foi um mês marcado por muita volatilidade no câmbio. No começo do mês, animado pelas captações brasileiras no exterior e pelo discurso ortodoxo da equipe econômica, o dólar atingiu R$ 3,26. No entanto, o temor de uma guerra levou a moeda a atingir R$ 3,64 nesta semana. ?Nos últimos dias, o mercado passou a redimensionar o impacto das notícias sobre o conflito no câmbio.?