O dólar voltou a cair hoje com força, fechando em baixa de 3,99%, cotado a R$ 3,61, num dia bastante positivo para o mercado brasileiro. Passada a pressão do vencimento de US$ 1,25 bilhão de títulos cambiais e dos contratos futuros – liquidados hoje pela cotação média (ptax) da segunda-feira -, os investidores venderam parte dos dólares em carteira para embolsar os lucros recentes, um movimento estimulado pela atuação do Banco Central (BC) e pelo ótimo desempenho das bolsas internacionais.
Nesse clima favorável, a Bolsa subiu 4,35% e o C-Bond, o título mais negociado da dívida externa, teve ganho de 4,06%, cotado a 51,25% do valor de face. A alta dos papéis da dívida derrubou o risco país em 7,68%, para 2.213 pontos.
O dólar chegou a operar em alta pela manhã, atingindo a máxima de R$ 3,79, mas a pressão sobre o câmbio durou pouco. Livre da influência do vencimento de títulos e contratos cambiais, o apetite dos bancos para comprar a moeda diminuiu muito, ainda mais num momento em que o dólar está num nível elevado, como afirmou o gerente de Câmbio da corretora Liquidez, Fabio Fender.
Mesmo com a queda de 6,84% apurada pela moeda nesta semana, o câmbio acumula valorização de 55,87% no ano. Num cenário de menor procura pela moeda, a intervenção do BC, que teria vendido cerca de US$ 100 milhões, segundo operadores, acabou empurrando as cotações para baixo. “Como a demanda caiu bastante, as vendas do BC, mesmo que menos expressivas do que na segunda-feira, tiveram um impacto significativo sobre as cotações”, disse o diretor de um banco estrangeiro.
Para o chefe de Derivativos do banco Lloyds TSB, Maurício Zanella, mais do que a atuação do BC, foi a decisão de alguns bancos de realizar lucros que explica a forte queda do dólar. Ele disse que, como o próximo vencimento de títulos cambiais vai ocorrer apenas no dia 17 – quando vencem US$ 3,7 bilhões -, as instituições trataram de diminuir suas apostas no câmbio. Zanella ressaltou ainda a influência do cenário externo, que desta vez colaborou para a queda das cotações. O Dow Jones fechou em alta de 4,57% e o Nasdaq, de 3,55%.
Além disso, alguns operadores disseram que o BC estaria apertando a fiscalização sobre o mercado, acompanhando mais de perto as operações no câmbio, para evitar eventuais movimentos especulativos.
E também circularam rumores sobre a pesquisa do Ibope, que seria divulgada à noite. Alguns dos boatos davam conta de que a distância entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB), o candidato preferido pelo mercado, teria diminuído um pouco, aumentando a possibilidade de realização do segundo turno, o que teria animado alguns investidores. No entanto, os rumores mais insistentes indicavam um cenário parecido com o apontado pelas últimas sondagens dos institutos Datafolha e pelo Vox Populi.
Para Fender, não se pode afirmar que o câmbio entrou numa tendência consistente de baixa. As incertezas no cenário político devem manter o dólar pressionado, ainda que as cotações não busquem o nível de R$ 4 no curto prazo.