A escalada do dólar parece não ter limites: num dia de muita volatilidade e especulação, a moeda americana chegou hoje a ser negociada a R$ 4, para fechar em R$ 3,99, em nível recorde do Plano Real. Com a alta de 2,97% registrada hoje, o dólar já acumula valorização de 72,28% no ano.
Mais uma vez, a pressão causada pela queda-de-braço entre o mercado e o Banco Central (BC) em torno do vencimento de US$ 3,6 bilhões de títulos cambiais, no dia 17, e pelas dívidas de empresas que vencem neste mês empurrou as cotações para cima. Além disso, a entrevista do presidente do BC, Armínio Fraga, ontem, indicou, para muitos investidores, que a instituição tem pouco ou nada a fazer para controlar o câmbio.
Para o analista da corretora Liquidez, Fabio Fender, a alta do dólar deveu-se principalmente ao movimento especulativo em torno do vencimento de US$ 3,6 bilhões de títulos cambiais. Ele ressaltou que, desta vez, o cenário externo não teve nenhuma influência negativa sobre o câmbio, uma vez que o Dow Jones subiu 3,4% e o Nasdaq, 4,42%. O comportamento do dólar, aliás, descolou-se do que ocorreu na Bovespa, que fechou em alta de 1 74%. O risco país, por sua vez, subiu 0,1%, para 2.271 pontos.
O BC enfrenta dificuldades para rolar os títulos que vencem no dia 17. Até a terça-feira, o BC havia renovado US$ 600 milhões dos papéis, e mesmo assim pagando taxas altíssimas, de até 37% ao ano. Hoje, a instituição recomprou US$ 80 milhões dos títulos. Para alguns analistas, a operação foi malsucedida, pois o BC conseguiu recomprar apenas 40% dos US$ 200 milhões que pretendia resgatar antecipadamente.
Para o ex-presidente do BC Carlos Langoni, os investidores aproveitam para especular nos dias que antecedem o vencimento de títulos cambiais porque há uma percepção de que a instituição está num momento de fragilidade, sem munição para atuar pesadamente. “O BC está em córner. De um lado, o espaço para vender dólares é limitado e, de outro, tem de aceitar juros estratosféricos se quiser rolar os títulos.”
Além disso, Langoni entende que a pressão sobre o câmbio reflete as incertezas no cenário político e as empresas que têm de honrar dívidas no exterior antecipam compras de dólares. Na semana que vem, os vencimentos são de US$ 650 milhões.
A entrevista de Fraga também causou mal-estar em muitos operadores. “Pareceu que ele entregou os pontos. Deixou a impressão de que o BC não tem mais nada a fazer. Isso estimulou alguns investidores a testar o nível de R$ 4”, afirmou um analista.
O ex-diretor do BC Emilio Garofalo Filho entende que a forte concentração de títulos cambiais – há US$ 13,3 bilhões vencendo até o fim do ano – explica apenas parte da pressão sobre o câmbio, ressaltando que as incertezas no cenário político e a aversão global ao risco têm um peso significativo na alta do dólar.”Nenhum dos fatores isoladamente justifica o dólar nesse nível. Se não tivéssemos as eleições, também teríamos problemas em função do quadro internacional.”
Garofalo disse, no entanto, que seria positivo se os candidatos anunciassem antecipadamente os nomes da equipe econômica. “Talvez isso não seja possível politicamente, mas seria importante. No Brasil, as pessoas confiam mais em nomes do que em programas de governo ou discursos de campanha.”
O BC voltou a atuar no câmbio, e mais uma vez não conseguiu deter o dólar. A instituição vendeu US$ 50 milhões à vista e outros US$ 50 milhões por meio de um leilão de linhas para exportação.