O cenário está preparado para um simples ritual de sepultamento da aliança eleitoral adubada há meses pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), com a cooperação do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), visando selar uma aliança de ambos os partidos para apoiar a chapa liderada pelo secretário de Estado de Governo, Márcio Lacerda (PSB), na disputa pela Prefeitura da capital mineira. O PT teria o direito de indicar o candidato a vice-prefeito e Lacerda, que desfruta da preferência do eleitorado conforme atestam as sondagens preliminares, poderia se eleger com relativa facilidade.
A tese foi rejeitada com todo o empenho possível pelo diretório local do PT, em função de questões diretamente relacionadas à política doméstica, terreno bastante suscetível ao florescimento de pequenas rusgas que acabam se transformando em diferenças irreconciliáveis. Por sua vez, o diretório estadual concluiu que a aliança com o governador Aécio Neves seria a única forma do partido continuar participando da administração de Belo Horizonte, mesmo admitindo uma posição secundária na chapa. A compensação viria do fato de que o prefeito, caso Lacerda fosse eleito, não terá sobre si o signo indesejável do tucanato, por enquanto uma possibilidade inexistente na práxis petista.
A questão foi levada ao exame da cúpula do PT e rejeitada por 13 votos a 2, reiterando o veto sugerido pelo diretório municipal de Belo Horizonte. Como a burocracia partidária é uma réplica inspirada no infindável conjunto de regulamentos que se superpõe à gestão pública, o próximo passo a ser dado é o pronunciamento do Diretório Nacional, órgão máximo da governança partidária. O prazo para o anúncio da medida se esgota no final da semana.
Tudo leva a crer que não há salvação para a aliança do PT de Belo Horizonte com o tucano Aécio Neves, mesmo que o ?socialista? Márcio Lacerda esteja à frente da coligação. O fosso entre petistas e tucanos assumiu uma dimensão exagerada, sobretudo depois do escândalo do mensalão, cuja escória escorreu de forma inevitável e acabou respingando em figuras tidas como acima de quaisquer suspeitas no próprio PSDB, como o senador Eduardo Azeredo, ex-presidente nacional do grêmio e que, para colocar a discussão em termos radicais, foi o primeiro político a se beneficiar de recursos financeiros oriundos do esquema montado pelo empresário Marcos Valério de Souza. O mesmo da quadrilha de mensaleiros denunciada pela Procuradoria Geral da República.
A oposição tucana ao governo Lula, sobretudo no Senado, é uma tachinha afiada nas chinelas dos principais operadores da política ditada pelo Palácio do Planalto, aguçada pelo osso que permanece entalado na garganta com o arquivamento da proposta de prorrogação da cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), num episódio marcado pela arregimentação maciça de PSDB e DEM em torno da derrubada da medida.
Assim, o PT só aceitará aliança eleitoral com os tucanos quando lhe for garantida a prerrogativa de ser cabeça de chapa, como nos casos de Cabo Frio (RJ), Cláudia (MT), Açailândia (MA) e Xanxerê (SC). Em outras situações parecidas com Belo Horizonte, porém, o PT não titubeou em aceitar de bom grado o apoio tucano, como nos municípios de Nova Iguaçu e Nova Friburgo (RJ), Itajaí e Criciúma (SC), Araguaína (TO) e Linhares (ES). Dois pesos e duas medidas.
A argumentação dos opositores ao acordo com Aécio para a eleição municipal de Belo Horizonte está centrada na reconhecida expressão nacional do governador de Minas Gerais e no provável desdobramento que tal condição determinará sobre o andamento das tratativas da sucessão presidencial em 2010. A persona política de Aécio tem tanta força, que certo dia Luiz Inácio Lula da Silva pensou alto e recomendou a filiação do neto de Tancredo ao PMDB para garantir à aliança governista, sempre a seu juízo, um candidato presidencial imbatível. Pois é…
