Dois Dias das Crianças

Anand Rao

Aos filhos de pais separados litigiosamente… parabéns! Os únicos filhos que possuem dois dias das crianças são os filhos de pais separados em litígio. Geralmente, esses, para evitar traumas, se tornam espertos e de tanto verem discussões e desavenças entre os pais, articulam e têm dois Dias das Crianças, proposta muitas vezes dos incomunicáveis pais e seus doutos orientadores.

Abordaremos alguns aspectos dessa questão, nos atendo aos fatos e observações decorrentes das reuniões de auto-ajuda da Participais (www.participais.com.br), uma associação voltada para a melhoria da relação de pais e mães separados com os filhos.

O temor sobre o caminho que será seguido pelos filhos norteia sempre os pensamentos daqueles que desejam se separar. Quando separados, sob o signo e a atitude do litígio, são submetidos às orientações dos advogados e às decisões judiciais, que, muitas vezes, são corporativas e vez por outra inovadoras. Tudo depende do conhecimento desses sobre os novos rumos do direito de família.

Os filhos de pais separados hoje somam mais de 50% nas escolas públicas e particulares. A revolução feminina, e não feminista, tem imposto à vida familiar uma nova conjugação de afazeres. É tácito, público e notório que o homem que não se adaptou a essa nova atuação, à nova participação masculina, se casado com uma mulher atuante e inovadora, está fadado a separar-se, obviamente por solicitação dela. E faço uma pausa: o índice de separação por solicitação feminina é de mais de 90%. Se o pedido for masculino, prepare-se: a batalha para ver os filhos vai ser árdua até ela arrumar uma nova relação, isso segundo dados comprovados em matéria recente da revista Veja.

Igualdade parental, idéia criada e divulgada pela Children’s Rights Council (Conselho dos Direitos da Criança), estabelece uma participação igualitária na criação dos filhos, pós-separação. Sob alguns aspectos, a idéia soa como utópica mas, se suportada numa lei aprovada pelo Congresso, poderá prosperar. Para isso estão tramitando projetos de lei dos deputados Tilden Santiago, Feu Rosa e Ricardo Fiúza, estabelecendo a guarda compartilhada que, se aprovados, dariam suporte jurídico à igualdade parental. Para quem conhece a fundo os trâmites do Congresso, e sabe que lá nada se aprova se não houver consenso de líderes, e conseqüentemente dos liderados, vemos que muita água vai rolar ainda nesta questão, apesar do incansável lobby feito pela Associação Pais Para Sempre. Outras, como Pai Legal e Apase, têm mantido diuturno debate sobre a questão em seus grupos de discussão e ações coordenadas.

Vê-se que para as futuras gerações, dois dias das crianças para filhos de pais separados litigiosamente será difícil, se não esmorecermos em nossa luta. Temos que continuar a ocupar espaço na mídia, informando aos advogados, juízes e casais, os passos da nova separação. Ressalte-se, onde já existiu amor, e isso tem que ser relevado, há uma grande possibilidade de acordo com um pouco de concessão e sabedoria. Quando houver respeito e harmonia entre os entes queridos, e não fofoca e opiniões, a convivência será possível. Quando as associações se detiverem em novos rumos, novos caminhos para os pais, orientações inovadoras, tudo será possível. E os novos companheiros, tanto dele quanto dela, têm que participar deste complicado jogo de xadrez. Segundo alguns, o homem não consegue viver sozinho, e outros, a mulher também não. Esta que se desnuda a cada dia, rompendo preconceitos, terá que aceitar a nova companheira dele, e ele, que vestido, desnuda-se vagarosamente, com machismo e outros ismos, a dela.

Findo, desejando Feliz Dois Dias das Crianças para filhos de pais litigiosamente separados, legitimo uma frase que li recentemente, numa brilhante entrevista de Alfredo Oton de Lima, um dos grandes articuladores do movimento da Igualdade Parental no Brasil: “Queremos ser pais de presença e não de presentes”. Feliz dia das crianças!

Anand Rao é diretor de Comunicação Social da Participais Pais e Filhos Sempre Unidos.

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