Doenças associadas ao excesso de peso matam cerca de 80 mil por ano no país

Epidemia global, a obesidade tem um perfil diferente nos países da América Latina. Aqui cresce muito mais nas camadas de baixa renda e há uma disseminação de "fórmulas mágicas" para emagrecimento.

No Brasil, que sedia na próxima semana o VI Congresso Latino Americano de Obesidade, doenças associadas ao excesso de peso matam cerca de 80 mil pessoas por ano, número semelhante aos óbitos provocados pelo cigarro.

Para combater o problema da explosão de fórmulas manipuladas para emagrecer, os especialistas reunidos no evento vão lançar um documento defendendo mudanças na comercialização dos produtos. Querem a proibição do uso de hormônios de tireóide e seus derivados e de qualquer outro princípio ativo que não tenha sido devidamente testado em estudos clínicos controlados.

As sugestões serão encaminhadas à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que abriu uma consulta pública para rever as regras de funcionamento das farmácias de manipulação.

"Bombas para perder peso até existem em alguns países, mas são raras. Na América Latina a situação é alarmante. Barbaridades são colocadas na fórmulas desses produtos para que a pessoa perca peso rapidamente. O uso dos hormônios da tireóide por exemplo, é uma aberração. Não temos qualquer evidência científica de que eles sejam eficazes", alerta o endocrinologista Walmir Coutinho, presidente do XI Congresso Brasileiro de Obesidade, que será feito junto com o evento latino-americano, no Rio.

O documento solicita ainda a inclusão obrigatória de bula em moderadores de apetite e de outros medicamentos de prescrição restrita preparados em farmácias de manipulação.

"Além das fórmulas mágicas, vemos coisas as mais descabidas para emagrecer, que não têm fundamento algum. Até todo mundo perceber que um determinado produto não têm eficácia muita gente já ganhou dinheiro ou passou mal com isso", diz Coutinho. Ele se refere, por exemplo, aos "shakes e sopas milagrosas", que prometem redução de peso em curto espaço de tempo.

De desnutrido a obeso

O problema da obesidade "é grave para todo mundo" e requer ações conjuntas, lembra o médico. Na América Latina e nos demais países em desenvolvimento, por exemplo, chama a atenção para as conseqüências da transição nutricional, um fenômeno no qual a população, antes desnutrida, passa a sofrer os efeitos da obesidade.

"Isso ocorre porque as pessoas têm acesso à alimentação, mas sem qualquer informação sobre o valor nutricional dos produtos, escolhendo errado. Em vez de comprar uma fruta,leva um saco de batata frita ou um bolinho recheado, pois é mais barato e mais prático", exemplifica o endocrinologista, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos da Obesidade.

Crianças

Considerando o público infanto-juvenil, Coutinho ressalta que o País bateu até o campeão mundial, os Estados Unidos, onde o crescimento da obesidade ficou em 66% nas últimas duas décadas, contra 240% registrados no Brasil.

"É um problema que só vai ter solução se a sociedade toda se mobilizar", avalia, enfatizando a necessidade de profissionais e o público, de maneira geral, ficarem atentos às novas classificações da síndrome metabólica, caracterizada por um conjunto de doenças crônicas, decorrentes da resistência à insulina, que aumentam a chance de o indivíduo ter problemas cardiovasculares.

Sabe-se hoje que a medida da cintura, onde fica concentrada um tipo de gordura mais prejudicial ao organismo, é um dos principais critérios para o diagnóstico da síndrome. "As pessoas acham que só quem tem obesidade mórbida pode ser afetado. No entanto, isso já pode acontecer em uma mulher com mais de 80 centímetros de cintura, por exemplo. Antigamente, trabalhávamos com 88 centímetros", diz.

Ele lembra que os níveis de colesterol, glicose e pressão considerados ideais para evitar complicações decorrentes da síndrome metabólica têm baixado significativamente.

Durante o evento, serão discutidos ainda comprovações que reforçam a chamada Hipótese de Barker, que associa o baixo peso ao nascer a um risco muito maior de desenvolver, na vida adulta, a síndrome metabólica.

O fenômeno ocorre porque, diante da nutrição insuficiente, o feto desenvolve uma resistência à insulina, permitindo, assim, que a glicose chegue ao cérebro – único tecido do organismo que não depende da ação da insulina para captar o nutriente. Embora resolva um problema imediato, isso vai afetar o metabolismo e a saúde do indivíduo na vida adulta, aumentando dramaticamente os riscos de doenças do coração.

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