Documentação recebida na quinta-feira pela CPI do Tráfico de Armas mostrou novas evidências da proximidade da advogada Suzana Volpini Micheli com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). O dossiê revelou detalhes de conversas mantidas por ela com o integrante do PCC Abel Pacheco de Andrade, o Vida Louca, que, de dentro da Penitenciária de Presidente Bernardes, comandou o seqüestro de um casal de irmãos, em Tupã, em 6 de março de 2005.
Durante a investigação do seqüestro, a polícia gravou mais de 30 conversas de Vida Louca por celular, entre março e abril de 2005. Uma das interlocutoras do criminoso foi Suzana, que, segundo a polícia paulista, alertou o cliente sobre o grampo nos telefones. Em um único dia, 14 de março, Suzana falou por telefone com Vida Louca pelo menos cinco vezes.
O seqüestro foi frustrado no dia 7 de março pela polícia, que localizou o cativeiro e libertou os irmãos Sheila e Ricardo Escanhoela. Sheila é mulher de um ex-integrante do PCC, Marco Aurélio Souza, o Marcos Psicopata. Ela disse ter sido torturada para que revelasse o paradeiro de Petronilha Maria Felício, mulher do ex-chefe do PCC José Márcio Felício, o Geleião. Petronilha é inimiga número 1 do atual comando do PCC, que a acusa de ter ordenado a morte, em 2002, da advogada Ana Maria Olivatto, ex-mulher de Marcos Camacho, o Marcola.
A polícia gravou telefonemas nos quais Vida Louca falava com uma advogada, mas não tinha provas de que se tratava de Suzana. A certeza veio quando a advogada caiu em uma espécie de armadilha: em 14 de março, ela pediu à polícia autorização para ter acesso ao inquérito do seqüestro e foi informada de que isso só seria possível depois das 16 horas. Às 12h10 daquele dia, a interlocutora de Vida Louca ligou para avisar que só teria acesso aos papéis no fim da tarde.
A CPI investiga 32 advogados por suspeita de ajudar o PCC, agindo como pombos-correio na transmissão de recados entre os presos ou mesmo entrando com telefones celulares nos presídios. O caso de Suzana e o da advogada Ariane dos Anjos são ainda mais graves: ambas são suspeitas de pertencer à facção. Suzana chegou a ser presa, em dezembro, sob a acusação de conseguir transferências ilegais de presos, que custavam entre R$ 7 mil e R$ 8 mil. A advogada responde ao processo em liberdade e nega qualquer ligação com a facção. Mas em 2005, segundo denúncia do Ministério Público paulista, Suzana mantinha relacionamento amoroso com o preso Ivonaldo Avelino, o Boi Branco, integrante do PCC. Com uma declaração falsa de que tinha relacionamento estável com outro preso, Suzana conseguiu autorização para fazer visitas íntimas a Ivonaldo na Penitenciária de Iaras.
O relatório sobre a investigação do seqüestro de Sheila e Ricardo foi enviado à CPI pela Delegacia de Investigações Gerais de Tupã. Em meio ao grampo relacionado ao seqüestro, a polícia gravou um telefonema em que Vida Louca e um interlocutor não identificado acertam a morte de Moisés Nunes de Souza, de quem roubariam R$ 10 mil. Vida Louca diz que a execução foi tramada com um sócio de Moisés. Diz o relatório: ‘O interlocutor disse a Vida Louca que só ele acertou oito ‘no coco’ da vítima. Ambos riram.