Gesto de amor

Doar leite materno salva vidas. Saiba como coletar e armazenar

Os benefícios do ato de doar e receber. Esta foi a lição aprendida pela estudante Joice de Souza Godoes, 16 anos, mãe da pequena Lays Emanuelly, que tem apenas um mês de vida. Ao nascer, a bebê apresentou um problema de saúde e precisou ser internada por alguns dias no Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Lays recebeu leite materno fornecido por uma doadora, até que Joice pudesse amamentá-la com a quantidade de leite que necessitava. Semanas depois, com a produção de leite normalizada, Joice quis retribuir o gesto de amor e aproveitou uma vinda ao hospital para se cadastrar como doadora do Banco de Leite do HC. “Quando a Lays esteve internada precisou de complemento, porque perdeu peso. E logo que meu leite aumentou, decidi doar também. É bom ajudar os bebês e as mães que precisam”, conta.

Assim como ela, outras mães passam pela mesma situação. Com dificuldades para amamentar, por diversos motivos, entre eles, o estresse emocional gerado por um parto prematuro, muitas não conseguem dar de mamar a seus bebês, o que gera uma demanda pelo leite materno que vem das doadoras. Leite materno que é coletado sob orientação de um banco de leite, que também gerencia a captação, processamento, pasteurização e o armazenamento, fazendo com que chegue até as crianças internadas preservado e livre de contaminações.

Segundo os médicos, o aleitamento materno é a melhor maneira de alimentar os recém-nascidos, para que eles cresçam sadios, ganhem peso e fiquem protegidos contra diversas doenças. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o leite materno deve ser a única fonte de alimentação dos bebês até os seis meses de idade, podendo a partir desta idade, ser combinado a outros alimentos.

“Doações diminuíram além do esperado”, diz Maria Celestina. Foto: Felipe Rosa

Estoques estão em baixa

Em Curitiba, há somente dois Bancos de Leite Humano (BLH): o do Hospital de Clínicas (HC) e do Hospital Universitário Evangélico. O do HC atende diariamente cerca de 25 bebês internados na unidade de neonatologia. Para alimentar estas crianças, o hospital precisa de três a quatro litros de leite materno por dia.

“Temos dez freezers, mas só três têm leite em suas gavetas, quando o normal é estarem todos quase cheios. As doações diminuíram muito de dezembro a fevereiro. Isso ocorre devido ao desconhecimento das mães sobre a doação e a falta de incentivo e de políticas contínuas de doação de leite”, revela a enfermeira e coordenadora do Banco de Leite Humano do HC, Maria Celestina Bonzanini Grazziotin.

No Evangélico, a situação é a mesma. Para atender os 30 leitos de UTI e neonatologia é necessário um estoque diário de cerca de oito a dez litros de leite materno, número que não tem sido alcançado com doações.

“Estamos com os estoques baixos, muitas mulheres viajam no período de férias. Mas este ano as doações diminuíram além do esperado. Tínhamos uma média diária de seis litros de leite para alimentar as crianças. Agora estamos com apenas três litros por dia”, relata a coordenadora do Banco de Leite Humano do Hospital Evangélico, Patrícia Regina Strapaçon. (PW)

Foto: Felipe Rosa

Coleta feita em casa

Segundo Maria Celestina, do HC, mães em boas condições de saúde, que fizeram o, pré-natal, que não fumam ou bebam, que estejam com as vacinas em dia e não possuam certas doenças, como o HIV, podem ser doadoras.

“Fazemos um cadastro com várias perguntas e avaliamos a saúde da mulher. Mas o processo não é tão rigoroso como o realizado nos bancos de sangue. É bem simples e fácil, depois de receber nossas orientações a mãe pode fazer a coleta do leite em casa, utilizando um pote fornecido por nós ou preparado segundo nossas instruções. Esse leite depois de coletado deve ir para o congelamento e aguardar até que seja buscado em sua casa, por nossa equipe. Seguir corretamente as instruções fornecidas garante que o leite doado possa ser aproveitado, sem desperdícios por conta da contaminação”, explica.

Patrícia, do Evangélico, também explica que além de coletar leite para beneficiar as crianças hospitalizadas, o banco ainda pode ajudar as mães que estejam enfrentando dificuldades para amamentar. “As mães nos procuram querendo ajuda para facilitar a amamentação e aqui ainda descobrem, que podem ser doadoras. E a quantidade doada não precisa ser grande, com apenas 20 mililitros de leite conseguimos, muitas vezes, alimentar um bebê por um dia inteiro”. (PW)

Orientações gratuitas

Amamentar pode parecer algo simples e intuitivo, mas na prática, as coisas nem sempre fluem facilmente, conforme a médica pediatra coordenadora Programa de Aleitamento Materno de Curitiba (Proama), Claudete Teixeira Krause Closs.

“As mães muitas vezes saem das maternidades com dificuldades para amamentar. Isso acontece especialmente na rede privada e em partos em que o bebê não é colocado para mamar antes da primeira hora após o nascimento. Com a pega incorreta, muitas podem ter problemas como a mama ingurgitada (empedrada), rachaduras e ferimentos no mamilo e mastites (inflamação da mama). Mas com orientação, isso pode ser superado e a mãe consegue voltar a amamentar e até doar, afinal, quanto mais ela retira, mais leite ela tem”, diz.

A recomendação de Claudete é que a mães busquem orientação no sede do Proama, em Curitiba, que realiza atendimentos diários, sem custos ou hora marcada, ou liguem pra instituição para obter informações. “Dados de 2008 mostram que apenas 64% das crianças nascidas em Curitiba mamam no peito. Queremos que este número passe para 100%. Isso é importante para a mãe, bebê e para a sociedade. Com o aleitamento temos crianças mais saudáveis e emocionalmente felizes. Além disto, as fórmulas de leite são caras e podem provocar alergias nos bebês”, aponta.

 

Você sabia?

– Com mais de 18 mil litros coletados, Paraná foi o segundo estado com maior número de doações em 2015, atrás apenas de São Paulo (43 mil litros).

– Paraná beneficiou cerca de 10 mil crianças em 2015, segundo dados da Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano da Fundação Oswaldo Cruz.

Como fazer a coleta do leite pra doação

1. Ligue para um banco de leite e peça orientações sobre a coleta, armazenamento e entrega do leite.

2. Faça a coleta após seu bebê sentir-se saciado, quando suas mamas estiverem cheias ou a cada três horas, quando seu filho estiver internado. Dê preferencia à ordenha natural, sem esgotadeira, para estimular a produção de leite.

3. Coloque uma touca nos cabelos e máscara (ou pano) na boca.

4. Lave bem as mãos e braços e mantenha as unhas curtas e limpas, sem acessórios.

5. Higienize a aréola e o mamilo com o próprio leite ou com água, e seque com uma toalha limpa.

6. Retire o leite em local limpo e arejado, longe de banheiro, lixo, esgoto e animais.

7. Massageie toda a aréola iniciando logo acima do mamilo em movimentos circulares no sentido horário até a base da mama. Coloque o polegar acima da linha onde acaba a aréola e o dedo indicador abaixo. Firme os dedos e empurre em direção ao corpo. Tentar aproximar a ponta do polegar do outro de dedo até sair o leite.

8. Despreze semp,re os primeiros jatos de leite.

9. Use frascos fornecidos pelo banco de leite ou vidros do tipo ‘café solúvel‘, esterilizados com a tampa plástica, durante 15 minutos em água fervente. Depois da coleta leve o leite imediatamente ao congelador, com o frasco identificado, com seu nome e a data da coleta.

10. Na próxima coleta o leite deverá ser ordenhado em outro frasco ou copo esterilizado e colocado sobre o leite já congelado.

11. Retirar o frasco com leite congelado só no momento de colocar o leite recém-coletado. Encher até três dedos abaixo da boca do frasco.

12. Armazenar o frasco de leite coletado em freezer ou congelador por 10 dias. Evitar colocar outros alimentos próximos ao frasco.

Fontes: Bancos de Leite Humano dos Hospitais de Clínicas e Evangélico de Curitiba.

Onde doar e obter orientações?

– Banco de Leite Humano do Hospital de Clínicas da UFPR

Rua General Carneiro, 181, no prédio da Maternidade do HC. De segunda à sexta das 8h às 18h. (41) 3360-1867

– Banco de Leite Humano do Hospital Evangélico

Al. Augusto Stellfeld, 1908, Bigorrilho. De segunda à sexta das 8h às 17h. (41) 3240-5117

– Associação de Proteção à Maternidade, à Infância e à Família (APMIF)

Entidade vinculada ao HC, que realiza coletas e presta orientação às mães em São José dos Pinhais

Rua Izabel A. Redentora, 2048. (41) 3058-1979

– Programa de Aleitamento Materno de Curitiba (Proama)

Rua Jaime Reis, 331, São Francisco (na Unidade de Saúde Mãe Curitibana). Das 7h às 17h. (41) 3225-6407 (horário comercial) e (41) 9951-3987 (24 horas). Oficinas de amamentação: terças-feiras, às 7h30.

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