Josemary Morastoni e Marlei Gomes da Silva Malinoski
A idéia de rede constitui uma idéia emergente baseada nas tecnologias de informação. Conhecer é como enredar, fazer parte, tecer significados e partilhar resultados, a rede é acêntrica, o conhecimento não parte de um ponto ou pertence a uma só disciplina, ele enreda as discussões interdisciplinares, desta forma o conhecimento não parte de uma, ou para uma, única direção. Compete ao projeto político a interação das disciplinas dentro de uma percepção do conhecimento democrática, porém qualitativa, visando a proposta de desenvolver o potencial emancipatório do sujeito.
O sujeito não é passível de adestramento, o ser humano, por sua própria característica criativa, busca burlar todos os mecanismos que lhe pareçam repetitivos e descontextualizados. O homem é imprevisível, é essa imprevisibilidade que o torna articulador de seus conhecimentos, que são instintivamente direcionados para uma utilidade imediata ou não. A sociedade está em contínua evolução, estamos na era da informática, da robótica e do virtual, que justifica a característica do conhecimento como sendo transitório, que muda por um melhor. Nada pode ser apresentado como cabal para o sujeito, pois a sociedade, que o cerca, está em constante elaboração de raciocínio e conceitos. Cabe ao projeto político democratizar o conhecimento em uma rede de relações significativas, propiciando aos seus agentes transformadores, sejam eles alunos e/ou professores, comungar (referência a comum, comunhão, tornar conjunto) seus saberes.
Trata-se o conhecimento, no projeto político, como um norteador dos saberes a serem trabalhados em sala de aula, porém é necessário compreender que os saberes são a união producente de representações contextualizadas. O que gera uma crise de identidade do próprio saber, como exposto em Levy (2000), pois como estabelecer conceitos e técnicas para essa representação do saber e qual a identidade de cada um nesse espaço coletivo de produção, visto que sendo fruto das representações do meio estará condicionado à inteligência coletiva, que virtualmente exprime uma comunidade histórica que co-produz, administra e modifica o conhecimento, sendo assim aprendendo e recriando-o continuamente.
Sendo assim, as produções de escola não têm uma padronização, elas buscam, por meio de seu projeto político, equacionar as relações de poder, economia e conhecimento dentro de um contexto de cidadania, que atribuam uma finalidade inclusiva à escola e aos seus participantes.
Porém, como citado no início do texto, pensar a escola é a união producente do projeto político e do projeto pedagógico. Pensando o pedagógico, tem-se o saber do professor, determinador de sua identidade, que parte da integração curricular, das disciplinas, da formação reflexiva profissional, suas experiências e sua cultura pessoal e a observação do contexto ao qual a escola se insere. Essa identidade deve estar de acordo com a função da escola, que seria selecionar, separar e incorporar certos saberes sociais, que serão transformados ou adaptados às formas e aos objetivos do ensino em conformidade com os agentes escolares (projeto político) e a clientela. O que será refletido nas representações do professor sobre o currículo.
Antônio Flávio Moreira traz uma representação do currículo como sendo uma percepção do momento histórico, ao analisá-lo como concepções, conteúdos e conhecimentos que se ensinam e que se aprendem; experiências de aprendizagem e como plano de aprendizagem para o qual o objetivo principal são as metas de ensino. O currículo vem a representar o projeto a ser desenvolvido pela prática, um instrumento sistematizador do processo educativo escolar. Seus componentes, ou conteúdos, são reflexos de uma escolha cultural e temporal, mas, sobretudo, contextualizada por ideologias – compreende-se contextualizar como sendo a forma como o mundo se organiza. O currículo por si só representa uma prática de relação de poder, produção, significação e por que não dizer?, de identidade social. Propiciando a prática pela práxis, não como jogo semântico, mas como ampliação do conceito de embasamento teórico e critico das ações educativas contextualizadas.
Esta representação também está delimitada nos saberes dos professores, que se caracterizam como profissionais, pois, no mundo de hoje, sabemos que os processos interativos de comunicação, colaboração e criatividade são indispensáveis ao novo profissional desta sociedade chamada do ?conhecimento?.
Em todas as áreas de trabalho a demanda é com base no trabalho coletivo, discussão em grupo, espírito de cooperação, contribuição, parcerias e representações. Em um processo contínuo em que o aluno constrói os significados por intermédio das experiências vivenciadas, o que proporciona novos papéis para os profissionais ligados à educação.
Esses papéis se configuram principalmente em um professor como ?distribuidor? do conhecimento; ele deve torna-se um articulador da aprendizagem dos alunos, um criador de experiências e de ambientes que promovam a aprendizagem. A partir do momento em que o professor estiver ?vinculando? estudantes à aprendizagem ativa e direcionada para a construção de um conhecimento profundo e de habilidades para solucionar problemas, irá exigir do professor uma postura voltada às ações educativas reflexivas e analíticas da sua prática dentro das especificidades do ensino tendo como foco o aprendiz.
As especificidades do ensino centrado no aluno/aprendiz obrigam o educador a tomar uma postura de mediador; deve-se propiciar ao sujeito da aprendizagem ferramentas possíveis para a construção contínua de seu conhecimento, de forma que o mesmo possa usufruir sua criatividade e imprevisibilidade para compreender a sua própria evolução dentro das características de um povo como nação. E que para ser parte integrante dessa busca saiba articular seu conhecimento, atualizando-se continuamente em busca do conhecimento relacionado como capital-saber.
Quando se utiliza a palavra capital para exemplificar a posse do conhecimento, quer-se ilustrar que o mesmo deve ser considerado como um bem financeiro, que caso não seja atualizado perde seu valor e é absorvido com o passar do tempo. Porém, não se nega a visão dada por Nilson José Machado, o conhecimento como dádiva e como um valor de laço de interligação. Voltando à concepção do conhecimento como um ?capita-saber?, faz-se importante discutir as diferenciações entre o valor desse capital e a sua diferenciação em uma evolução social de economia e de preço. Como citado por Machado, do poeta Antônio Machado: ?Todo necio/ Confunde valor y precio?. O valor de troca de conhecimento é ricamente ampliado pelas comunicações, porém o mesmo é dimensionado e dinamizado pelos interesses econômicos, contrário aos interesses educacionais, que articulam o conhecimento em busca de uma abstração que relacione varias argumentações em uma rede de proposições. Porém, essa rede deve contemplar o caráter formativo e mercadológico do conhecimento, dentro de uma sociedade capitalista.
Para que isto aconteça, a prática dos professores deverá ser baseada em um ?conjunto? de estratégias de ensino como grupos de trabalho, ensinamentos fornecidos pelos próprios estudantes, aprendizagem cooperativa e colaborativa, trabalho com projetos que envolvam situações reais, entre outras atividades.
O aluno, ao invés de ser passivo, só escutar e memorizar os conteúdos, passará a ser parte realmente integrante do processo, ele estará constantemente inventando, explicando, elaborando, produzindo, ?estendendo? seus pensamentos e defendendo suas posições. Assim, a mudança de foco na prática pedagógica passa da ênfase do ensino para a aprendizagem.
Nota
1. MACHADO, Nilson José. A Universidade e a organização do conhecimento: a rede, o tácito e a dádiva. Estudos avançados 15 (42), p. 333-352.