Na opinião da turma do centro e da direita, o governo Lula evoluiu. Do ponto de vista das esquerdas, retrocedeu. Todos se lembram dos tempos em que os petistas e demais companheiros do hoje presidente e então político socialista pregavam o calote na dívida externa ou, com muita boa vontade, a moratória. Consideravam o Brasil uma vítima do imperialismo, que nos estaria explorando com empréstimos a juros extorsivos. E aí entravam até o Clube de Paris e o Fundo Monetário Internacional, este uma entidade da qual o Brasil era e é sócio.
A esquerda se fez governo e Lula, presidente. E as coisas mudaram da água para o vinho. O principal motivo da pregação ?fora FHC?, que era a busca de um alto superávit primário para pagar os juros da dívida externa, não desapareceu no novo governo. Antes, pelo contrário, na primeira administração de Lula houve um incômodo aperto fiscal. Fez-se o máximo de economia para satisfazer os nossos credores, para descontentamento das esquerdas e até mesmo do empresariado, que reclamava maiores investimentos dentro do Brasil para promover o desenvolvimento econômico, produção, consumo e empregos.
As esquerdas ideológicas continuaram contra essa política e acabaram, no alvorecer deste segundo mandato, conseguindo promessas de metas de superávit menores e mais adequadas, para que sobrasse dinheiro para o desenvolvimento econômico. O governo iria economizar menos para pagar os credores e mais para fazer o Brasil crescer. Mas acaba de sair uma notícia que seria boa, ou até ótima, não fossem os poréns. O governo federal anunciou um superávit primário de 6,56% do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, de tudo o que no Brasil se produz. É um superávit maior do que os dos tempos de FHC e maior ainda do que os da primeira gestão de Lula. Os números são de abril e representam um recorde de economia (ou aperto do cinto) desde 1991, ano em que o Banco Central iniciou as estatísticas sobre o assunto.
A economia recorde equivale a quase todo o investimento em obras estimado pelo governo para todo o ano de 2007. O governo prometia aplicar em obras R$ 25 bilhões neste ano. E já economizou no primeiro quadrimestre R$ 23,5 bilhões. Só que não é dinheiro para investimentos e, sim, para pagamento da dívida pública, com a vantagem de que ela está diminuindo e até quase zerando.
Há nesta que parece uma ótima notícia o outro lado da moeda. Acontece que o superávit resulta de uma brutal arrecadação de impostos e de retardamento em aplicações no desenvolvimento econômico. As estradas continuam esburacadas; o tráfego aéreo vai de mal a pior por falta de investimentos em volumes adequados; a segurança pública é insuficiente e o sistema de saúde está em colapso. Isso para listar alguns gargalos. ?Os números são bons, mas os problemas continuam os mesmos?, diz em tom de crítica o economista Alexandre Cancherini, do Unibanco. E acrescenta: ?Continuaremos vendo um ajuste fiscal feito com base no aumento da arrecadação, e não num valor maior de controle de gastos, e isso não se sustenta no longo prazo?. Para o economista, o superávit primário de 2% e não 6,56% já seria eficiente para conter o crescimento da dívida pública. A meta do governo era economizar 3,88%, mas está exagerando no aperto do cinto. Do nosso, pois acaba de aumentar as despesas de custeio aumentando substancialmente o número de funcionários em cargos de confiança sem concurso e até duplicando os seus salários. O negócio do governo é tirar da nação em impostos o máximo possível e gastar na ampliação da máquina burocrática. Economiza onde não precisa e é pródigo em gastos dispensáveis. Este é um governo grande e cada vez maior.
