Do aconchego da floresta ao caos da metrópole

À medida que a cidade cresce, os animais silvestres vão sendo empurrados para as áreas menos urbanizadas. Mas algumas espécies conseguiram se adaptar à nova realidade e, vez por outra, podem ser vistas em alguns pontos de Curitiba. Só de répteis vivem na capital paranaense cerca de 60 espécies, enquanto se calcula que as aves somem cerca de 200 tipos só na Grande Curitiba.

As espécies de répteis são assim divididas: dois tipos de cágados, dez de lagartos, três de cobras-de-duas-cabeças e 45 serpentes. O estudo sobre estes animais começou em 1983 pelo Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná e pelo Museu de História Natural do Capão da Imbuia. Hoje o monitoramento continua com a parceria da Universidade Tuiuti do Paraná e da Sociedade Fritz Müller de Ciências Naturais.

Renato Bérnils, um dos pesquisadores, conta que, quando chove muito, é possível encontrar a cobra-cega em praças no centro da cidade e em terrenos baldios. As pessoas pensam que é uma minhoca, mas descobrem que se trata de uma cobra quando ela coloca a língua para fora. Muitos acabam matando o animal, que é inofensivo. Ela não possui veneno, é cega, quase sem dentes e, como toda cobra, surda. A urbanização não conseguiu afastar o bicho, que vive nos subterrâneos e se alimenta de cupim, besouros e larvas.

Outro réptil comum é o lagarto teiú (Tupinambis merianae). Ele ocorre em todo o Estado e chega a medir cerca de um metro e meio. Tem hábitos diurnos e vive nas regiões mais afastadas do centro. Gosta de atacar galinheiros, come os ovos e pintinhos. As pessoas não gostam muito dele, já que se acostumou com a presença humana e não tem medo. “Ele é bem abusado”, confirma Renato. O teiú também freqüenta lixões e terrenos baldios onde as pessoas costumam jogar restos de comida. Segundo Renato, ele é vítima constante de criadores de galinha, atropelamentos e ataques de cães.

Em Curitiba também ocorrem duas espécies de cágado, o cágado-preto (Platemys spixii) e o cágado-pescoçudo (Hydromedusa tectifera). No entanto, com os aterros e a canalização dos rios só é possível encontrá-los na periferia, em áreas com banhado. Eles aparecem principalmente na divisa com Pinhais, São José dos Pinhais, Fazenda Rio Grande e Araucária.

Enquanto alguns répteis ainda são facilmente encontrados, há outros que estão ficando bem mais raros. É o caso da cobra Philodryas arnaldoi, que não é perigosa e só vive perto da Serra do Mar. Ela não possui um nome popular, mas em alguns livros é chamada de parelheira-do-mato. Segundo Renato, existem cerca de 140 espécies de serpentes no Paraná, mas as pessoas devem conhecer pelo nome apenas umas 30.

Também é possível encontrar na cidade espécies exóticas, principalmente as tartarugas de água doce. As pessoas compram os animais e quando não querem mais cuidar do bicho, soltam na natureza. Mas não é possível dizer que elas são nativas, já que não estão se reproduzindo e se espalhando pela região. Outra espécie exótica, mas bem adaptada, é a lagartixa-de-paredes (Hemidactylus mabouia). Ela foi trazida há séculos da África para o Brasil. Ao contrário de outros animais exóticos, não trouxe nenhum desequilíbrio para a natureza. É inofensiva, não ataca e até come animais indesejáveis como moscas, baratas e aranhas.

Sem números

Mesmo com tanto tempo de estudo, Renato explica que não existem estimativas do tamanho das populações destes répteis, já que é difícil levantar estes dados. Estes bichos possuem hábitos de vida discretos, ao contrário das aves e mamíferos, mais fáceis de quantificar.

Cidade é viveiro de aves silvestres

A quantidade de espécies de aves também surpreende. Em Curitiba e Região Metropolitana existem cerca de 200, e algumas vivem no centro da cidade. O ornitólogo Pedro Scherer, que trabalha na Secretaria Municipal do Meio Ambiente, explica que isto acontece pela grande quantidade de áreas verdes espalhadas por Curitiba.

Umas das espécies mais comuns é o periquito verde. Eles vivem aos bandos, sendo possível encontrá-los nas praças e parques. Adoram uma algazarra e não dispensam frutos como os da palmeira. São da região da Serra do Mar, mas se adaptaram bem na cidade.

Em Curitiba também vive o arapaçu, que fica nos remanescentes de florestas, como o Parque Barigüi. Escala troncos de árvores e adora comer insetos. Suas penas são bem discretas, o que o ajuda a se esconder de predadores. O pica-pau chan chan também é comum por aqui. Ele prefere áreas mais abertas e também é visto pelo Parque Barigüi e pelo São Lourenço. Para conseguir seu alimento, anda pelo chão e remexe a terra à procura de insetos como o cupim. O pica-pau verde também mora na cidade, mas pouca gente o conhece. Por ser de difícil visualização, é fácil confundi-lo com a vegetação.

Cultura

Além da preservação das áreas verdes, a cultura européia com quintais arborizados e cheios de flores também ajudaram a compor um ambiente saudável para os pássaros. Não é raro encontrar ainda beija-flores e aves como sabiás e o sanhaço papo laranja. Sem falar no conhecido, mas não tão popular quero-quero. Ele adora fazer ninhos em terrenos limpos e vira uma fera quando alguém se aproxima.

Curitiba também recebe aves migratórias. Bandos de maçaricos vêm da América do Norte e passam uma temporada por aqui. Geralmente chegam em março e retornam em maio. Na Região Metropolitana, é possível encontrar, em áreas alagadas, entre três e quatro mil exemplares. (EW)

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