Mudar a matriz da produção de monocultura e da agricultura convencional para a diversificação de culturas e a produção agroecológica, no intuito de construir a soberania alimentar e preservar a biodiversidade. Essa foi a principal tese defendida pelas 18 organizações que compuseram a 5.ª Jornada de Agroecologia, com o tema Construindo o Projeto Popular e Soberano para a Agricultura, no encerramento do evento, na última sexta-feira (9), no Centro de Convenções em Cascavel (PR).

continua após a publicidade

Na opinião do superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Paraná, Celso Lisboa de Lacerda, as Jornadas de Agroecologia são fundamentais para o avanço do processo de reforma agrária, porque dessa forma é possível dar visibilidade à agricultura familiar e à importância da preservação do meio ambiente. ?O modelo agroecológico é o modelo mais adequado e que garante viabilidade econômica ao pequeno agricultor, mas as práticas de agroecologia não fazem parte do rol de conhecimento da maioria dos produtores rurais. Ao longo das últimas décadas, pouco ou nada se investiu em pesquisa e difusão de tecnologias orgânicas. As grandes corporações não investem no segmento por não obterem lucro, restando apenas para o poder público adotar tal procedimento?, afirma ele.

Lacerda explica ainda que, como a mudança no modelo tecnológico não aconteceu nas últimas décadas, restou ao agricultor a adoção do modelo convencional de agropecuária. ?É necessária uma transformação cultural, mesmo que de forma cautelosa e morosa?, completa.

Para que essa nova tecnologia se dissemine nos assentamentos paranaenses, o Incra, além de apoiar as Jornadas de Agroecologia que acontecem há cinco anos no Estado, desenvolve um plano de trabalho através do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). A autarquia firma parcerias com universidades e direciona os investimentos do Pronera para a mudança no modelo tecnológico, ensinando técnicas de agroecologia em cursos de nível médio e na formação de professores, em nível superior, para atuação na educação do campo. Também promove cursos de residência agrária, com a formação de especialistas para trabalhar na assessoria técnica da agricultura familiar.

continua após a publicidade

Durante o ano de 2005, foi investido R$ 1,3 milhão no estado para essas atividades, beneficiando 362 alunos em oito cursos – 20 vezes mais do que o valor aplicado nos dois anos anteriores.

Oficinas levam novidades aos produtores

Escolher nichos de mercado não explorados, agregar valor ao produto e otimizar a produção são técnicas gerenciais e econômicas ensinadas aos participantes da 5ª Jornada de Agroecologia. Uma das técnicas que os agricultores aprenderam foi a de extração do óleo vegetal a frio. O óleo é extraído da maioria das sementes das plantas e é utilizado como óleo de cozinha ou para combustíveis substitutos do diesel.

continua após a publicidade

Segundo o coordenador do projeto de miniusinas comunitárias de óleo vegetal da Rede Evangélica Paranaense de Assistência Social (Repas), Werner Fuchs, os benefícios da extração são inúmeros se o óleo for bem aproveitado pelos agricultores. ?O óleo virgem comestível é um alimento saudável, pode ser utilizado também como combustível. Pode se obter uma renda de até R$ 20 mil por alqueire com a produção de óleo de girassol, por exemplo, sem contar o reaproveitamento do excedente para adubação ou alimentação dos animais?, explica.

Outra técnica ensinada aos agricultores foi o sistema de criação de frango a pasto, uma evolução do sistema caipira, que garante uma alimentação saudável e com retorno econômico muito mais rápido ao agricultor. Além disso, o sistema segue as novas tendências de alimentos agroecológicos, preferidos pelos consumidores mais exigentes, e agrega ao produto maior rentabilidade.