Grupos indígenas, afro-descendentes, pesquisadores da cultura popular, participantes de grupos artísticos, historiadores e público em geral estão desde quarta-feira (20) participando do I Encontro Paranaense de Cultura Popular, organizado pela Secretaria de Estado da Cultura e Prefeitura Municipal de Castro, no Teatro Bento Mossurunga, localizado no município. O encerramento ocorre domingo (24) e todas as atividades são abertas ao público e gratuitas.
A diversidade cultural foi destacada já na abertura, com o show do Grupo Mundaréu que deu o tom do evento com o show ?Embala Eu?, de música popular e indígena. Nesta quinta-feira (21) os representantes das nações indígenas paranaenses Guarani, Kaigang e Xetá deram seus depoimentos auxiliados pelo indigenista Edívio Battistelli.
Depoimentos
Segundo eles, atualmente, a maior preocupação dos Xetás é a demarcação de suas terras, uma vez que últimos remanescentes vivem na aldeia Kaigang e Guarani. ?Somos apenas oito xetás puros, mas temos consciência de que há muita coisa a ser preservada. Nossos descendentes – cerca de 80 pessoas – estão espalhados, por isso precisamos de uma terra nossa?, afirma Ticuen Xetá.
Os Xetás são o único tronco genuinamente paranaense. Viviam na região de Umuarama e a tribo se caracterizava pelas atividades coletoras e de caça. Eram grandes consumidores de erva-mate e se alimentavam de peixes, mel, frutas, mandioca, milho e cobras. ?Minha mãe morreu no mato sem conhecer o homem branco. Eu só vi gente branca com oito anos. Casei com uma mulher branca e tivemos 12 filhos, mas só sete estão vivos. Temos 36 netos e precisamos unir novamente toda essa gente. Dizem que se a gente quiser tem de comprar terra. Onde já se viu índio comprar terra!?, exclama indignado.
A tribo Xetá, segundo Battistelli, vivia, há 50 anos, na Idade da Pedra Lascada. ?O encontro com a cultura branca foi violenta. Mas eles ainda conhecem muito da cultura deles. No entanto, a língua Xetá não está registrada. É uma cultura que corre sérios ricos de se perder?, alerta.
Já os Guaranis aprendem na escola tanto a língua materna como o Português. A nação Guarani se espalha por um território imenso ? Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina ? e até hoje eles se visitam nas aldeias desses países. ?Esse povo sobrevive graças ao ?ethos? tribal religioso. A espiritualidade dos guaranis é muito forte e os mantêm unidos?, conta o indigenista Battistelli.
?Mantemos viva 98% da nossa cultura original. Os 2% restantes se referem ao uso de roupas e alimentos. Vivemos do que plantamos ? milho, feijão, mandioca, batata-doce e temos algumas galinhas. Mas o que mais fazemos é cantar cantigas que contam a nossa história, e de agradecimentos?, explica Dionísio Rodrigues, professor de Guarani e Português, na Ilha da Cotinga, em Paranaguá. Ele conta que o Coral Guarani da Ilha da Cotinga foi batizado de Tapemirim, que significa ?cantos sagrados?.
Durante a tarde desta quinta-feira (21) a cultura negra será debatida pelos professores Glauco Souza Lobo, José Flávio Pessoa de Barros e representantes da comunidade negra de Castro. Ao final do dia apresenta-se a Congada da Lapa e o Coral Sorriso Negro.
Na sexta-feira (22), é dia para discutir o Tropeirismo e O Sagrado e as Festas do Povo. Serão realizadas apresentações do Grupo Fogança, da Universidade Estadual de Maringá, da Folia de Reis, de Castro, e do Rufo de Adufo, com os grupos Mandicuéra e Caiçaras do Paraná, de Paranaguá.
O sábado (23) foi reservado para a Diversidade Étnica Paranaense e o Fandango. O encerramento do Encontro ocorre domingo (24) com apresentação do Grupo de Teatro Filhos da Lua, Grupo Arcos, de Florianópolis (SC), performances dos artistas populares Hélio Leites e Efigênia Rolim, além do show do Fandango Meu Paraná.