Muitos das novas gerações não ouviram falar. Nem tão pouco viram a movimentação dos tanques militares em direção à Brasília: A renúncia de Jânio Quadros; a queda de João Goulart; o movimento da Igreja conservadora. Tudo isso é apenas mais um fato histórico, algo distante, já inatingível. No entanto, os ecos daquele período negro podem ainda ser captados através de documentos e relatos. Surgem então, os fantasmas de um tempo insano e absurdo. Vozes abafadas clamam por liberdade, mas foram esquecidas pelo vento.

Trabalhando com este tema, o livro “A Ditadura Militar no Brasil: repressão e pretensão de legitimidade-1964-1984”, publicado pela EDUEL-Editora da Universidade Estadual de Londrina-www.uel.br/editora (2ª tiragem-2003), da autoria da Profa. Maria José de Rezende, Doutora em Sociologia e docente do Departamento de Ciências Sociais da UEL, demonstra, entre outros aspectos, que “a análise das diversas estratégias (econômica, política, militar e psicossocial) do regime militar revelavam o quanto era ditatorial o seu projeto de sociedade”.

Destaca ainda que a pretensão de legitimidade não é pertinente apenas aos regimes democráticos, mas que as ditaduras buscam ganhar o reconhecimento dos diversos segmentos sociais. Portanto, de acordo com a autora, mesmo não existindo qualquer sinal de legitimidade no regime militar, não se pode afirmar que este não se preocupava em buscar formas de aceitação para seu projeto de sociedade. Isto é, a ditadura empenhou-se em construir estratégias nas diversas esferas da vida social, visando alcançar aprovação para sua proposta de construção, organização e condução de uma determinada ordem social.

No entanto, a ditadura, direcionou a sua busca pela legitimidade realçando uma pretensão supostamente democrática que “se constitui uma espécie de fio condutor presente em todos os governos militares”, a qual foi uma das grandes prioridades daquele período. Assim, a investigação constante neste trabalho, centra-se em buscar apreender “a atuação dos condutores do regime nestes diversos campos da vida social visando construir sua aceitabilidade”.

A autora enfatiza que a proposta de sua análise é contrária a orientações que indicam o crescimento econômico como a única estratégia utilizada na busca pelo reconhecimento daquele sistema, mas sim que foi uma delas. E, por sua vez, chama a atenção para o fato de que a criação de uma estratégia psicossocial é tão importante quanto e que esta deve ser relacionada às estratégias econômicas e políticas. Porque o encontro entre as mesmas realçava a insistência do regime em sedimentar “uma ordem social em que ele pudesse intervir sobre todos os indivíduos, grupos e instituições ilimitadamente e sob todos os aspectos”. Desta forma, o regime, ao supor que possuía todos os elementos que permitiam a sua identificação com o povo, justificava sua repressão a grupos que se negavam a identificar-se com o mesmo. Portanto, estes estavam sujeitos ao controle e até mesmo a eliminação, por não aceitarem uma integração com o regime.

Assim, o livro “A Ditadura Militar…”, além de representar vasto instrumento de pesquisa aos estudiosos da área, é também leitura importante para àqueles que desejam conhecer mais sobre a história deste país.

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