As empresas responsáveis pela distribuição do gás natural canalizado nos três Estados do Sul (Sulgás, SCGás e Compagas) enviaram, nesta sexta-feira, uma correspondência à Petrobras classificando como ?insensibilidade mercadológica? a proposta apresentada pela estatal de aumento no preço do gás natural importado da Bolívia.
As distribuidoras acusam a Petrobras de estar, de forma unilateral, definindo percentuais de aumento que prejudicam os consumidores atuais e impedem o crescimento do mercado do gás natural no sul, que depende exclusivamente do combustível importado da Bolívia.
A correspondência das distribuidoras é uma resposta ao comunicado enviado pela Petrobras na manhã desta sexta-feira às empresas. A estatal justifica como ?retirada de incentivo? um aumento de 63% no valor da commodity do gás natural (o que impactará num reajuste para as distribuidoras de cerca de 33% no preço final, que inclui commodity mais transporte). O reajuste será aplicado pela Petrobras já à partir de 1º de setembro (13%).
Em 1º de novembro serão aplicados mais 10% adicionais e o restante em janeiro de 2006, quando será retirado todo o incentivo até então praticado para o gás boliviano. Na mesma correspondência, a Petrobras afirma que aplicará o reajuste também para o gás nacional, só que os percentuais caem pela metade.
?Esta ação da Petrobras mostra uma total falta de interesse com os consumidores do gás natural na região sul. Todas as justificativas para o reajuste são inaceitáveis, pois colidem diretamente com a política adotada pela própria estatal de não reajustar o preço de outros combustíveis concorrentes do gás natural?, disse o diretor-presidente da Compagas, Luiz Carlos Meinert.
Na carta, as três distribuidoras também afirmam que a atitude vai agravar as diferenças entre as empresas brasileiras que utilizam o gás natural boliviano e o nacional. ?É igualmente inaceitável o agravamento das diferenças regionais ora existentes de cerca de 7% (..) para cerca de 36%. Entendemos que o preço do gás no Sul deveria ser igual ao praticado no Nordeste.?, diz a correspondência.
As empresas reforçaram a acusação de que a Petrobras nunca esteve preocupada em incentivar o mercado do gás natural importado no Brasil, lembrando que a atual política de preço teto, que a estatal quer cancelar, só foi possível graças à ação conjunta dos três governadores do sul junto à Presidência da República e ao Ministério das Minas e Energia em março de 2003.
?Todas as vitórias que conseguimos até agora foram garantidas depois de muito esforço junto ao governo. Não podemos dizer que houve boa vontade na negociação por parte da Petrobras?, afirmou Meinert
Não é a primeira vez, no último mês, que a Petrobras ameaça subir o preço do gás natural importado da Bolívia. A Compagas e as demais distribuidoras do sul têm trabalhado ativamente para evitar o reajuste.
No dia 26 de julho, a estatal comunicou o aumento às distribuidoras. Dois dias depois, a Compagas enviou uma correspondência à gerência de comercialização de Gás Natural da Petrobras repudiando a intenção comunicada pela Petrobras de aumentar o preço do combustível importado da Bolívia e vendido para as distribuidoras brasileiras, e não aceitando justificativas apresentadas na época como a crise política da Bolívia, ocorrida em junho. A Petrobras voltou atrás na decisão.
No dia 2 de agosto, as três distribuidoras do sul se reuniram em Curitiba para discutir com a Petrobras se haveria um reajuste e a forma como ele seria feito. A estatal se comprometeu a só alterar o preço do gás natural após um consenso com as distribuidoras. Mas não foi o que aconteceu. Neste dia 19 de agosto, em mais uma decisão unilateral, a Petrobas enviou outra correspondência, comunicando o aumento no preço do gás natural.
?Não concordamos com isso. Só aceitamos negociar um mecanismo de reajuste se não for como este apresentado agora, que vai provocar uma desestabilização irreversível do mercado consumidor de gás natural?, afirmou o presidente da Compagas.
