Contrariado com as infindáveis brigas regionais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um apelo dramático ao PSB e ao PC do B, na tentativa de salvar as aparências para o casamento de papel passado com seus tradicionais parceiros de esquerda. Diante da ameaça dos dois partidos de não integrarem oficialmente a coligação de apoio à chapa da reeleição, ele pediu empenho de socialistas e comunistas para sepultar divergências estaduais em nome de um projeto nacional
A oito dias da convenção do PT que homologará sua candidatura ao segundo mandato numa grande festa seguida de forró, em Brasília, Lula não conseguiu atrair o PMDB e ainda não sabe que partidos terá no palanque
"É muito importante manter o núcleo do governo unido na eleição. Conto com o apoio de vocês", afirmou ele aos presidentes do PC do B, Renato Rabelo, e do PSB, deputado Eduardo Campos, em reunião terça-feira no Palácio do Planalto. "Não faço distinção entre o PT e vocês. Eu sei que nem tudo está resolvido nos Estados, mas a vida é assim mesmo." Na conversa, Lula tentou apagar mais um incêndio em sua base aliada, que tem problemas distintos: de conflitos locais com os petistas à corrida para superar a cláusula de barreira, pela qual todo partido precisa obter pelo menos 5% dos votos no País e 2% em nove Estados para ter direito ao Fundo Partidário e aos programas gratuitos de rádio e TV. São comuns, no entanto, as queixas de que o PT não dá espaço aos parceiros e quer lançar candidatos próprios em quase todos os Estados
O PSB ameaça ficar fora da coligação nacional com o PT porque, no diagnóstico da maioria de seus dirigentes, é a melhor estratégia para superar a cláusula de barreira, terror dos pequenos partidos na próxima eleição. É com esse objetivo, aliás que o ex-ministro Ciro Gomes (PSB) – antes cotado para vice de Lula – deve concorrer a deputado pelo Ceará e ser o grande puxador de votos da bancada
"Estamos literalmente divididos em relação ao apoio formal à candidatura do presidente Lula. Eu não me sinto à vontade em dar apenas o apoio branco, mas também não me sinto à vontade em correr risco por causa da cláusula de barreira", admitiu Eduardo Campos. "Depois do pedido do presidente, começamos a checar novamente todos os palanques e ver o que é possível fazer. Até quinta-feira, daremos uma resposta definitiva ao PT." Se a decisão fosse hoje, o PSB estaria fora da aliança e Lula correria o risco de concorrer apenas ao lado do minúsculo PRB, partido do vice José Alencar, até agora o nome mais cotado para repetir a dobradinha com o presidente
Candidato ao governo de Pernambuco, o ex-ministro da Ciência e Tecnologia Eduardo Campos tenta contemporizar para fechar o acordo nacional. Mas está magoado porque o PT lançou Humberto Costa, também ex-ministro, à sucessão de Jarbas Vasconcelos. O PSB e o PT têm ainda incompatibilidades conjugais intransponíveis em São Paulo, Santa Catarina, Tocantins, Rondônia, Mato Grosso, Alagoas, Paraná e Amapá
Já o PC do B parece mais preocupado com outro imbróglio: a traição do PT no Distrito Federal, que insiste na candidatura da deputada distrital Arlete Sampaio ao Palácio dos Buritis, quando o ex-ministro do Esporte Agnelo Queiroz (PC do B) concorre à mesma vaga. "A divisão da esquerda é muito ruim para nós", insistiu Renato Rabelo
O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, procurou diminuir o mal-estar: "O importante, para nós, é o apoio político à candidatura do presidente Lula e um acordo, sobre diretrizes do programa de governo, que possa criar ambiente positivo para o próximo período." O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), foi na mesma linha. "É compreensível que partidos ameaçados pela cláusula de barreira não queiram fechar aliança formal", afirmou