A disputa por espaços importantes na cadeia de comando do governo Luiz Inácio Lula da Silva, para empregar uma expressão emblemática da conjuntura momentânea, malgrado o esforço contrário que os puristas se esbofam a empreender, infelizmente poderá tornar-se uma prática permanente ao longo desse arriscado segundo mandato.
Nos últimos dias houve mudanças na cúpula do Ministério da Fazenda e do Banco Central, com a imediata substituição de servidores de alto coturno, em face da postura divergente em relação à política econômica do governo, aliás, o campo de batalha onde se engalfinham as milícias dos desenvolvimentistas e dos monetaristas. Essa também é uma nuança herdada especialmente do segundo governo FHC, quando os monetaristas usaram todos os recursos imagináveis para dificultar o avanço do pensamento desenvolvimentista.
Por esses dias, a disputa dá-se em torno da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), presidido pelo economista Demian Fiocca, que deseja permanecer no cargo. O BNDES é, digamos, o braço financeiro do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, para o qual Lula chamou o executivo Miguel Jorge, então vice-presidente do Banco Santander, mas com passagem anterior na Autolatina (fusão desfeita da Ford e Volkswagen), quando se enfrentaram amiúde em questões trabalhistas, o que não impediu, porém, a aproximação entre ambos.
O ministro do Desenvolvimento indicou ao presidente Lula o nome do ex-diretor do Santander, Gustavo Adolfo Funcia Murgel, sua opção preferencial para a presidência do BNDES. Fiocca conta com o apoio do ministro Guido Mantega, embora sua vantagem mais expressiva, nesse contexto, seja a campanha aberta da maioria absoluta do corpo técnico da instituição por sua permanência.
A batata quente está nas mãos do presidente da República, que nas próximas horas deverá apresentar uma solução. Não custa lembrar que o ex-ministro Luiz Fernando Furlan, um dos auxiliares com maior prestígio junto a Lula, forçou a barra, mas não conseguiu nomear para o BNDES o presidente de sua estrita confiança. A história se repete.