Disparada do petróleo terá curta duração, dizem analistas

Rio – A disparada nas cotações do petróleo nos últimos dias é problema pontual e, pelo menos por enquanto, não deve afetar os preços dos combustíveis no País, avaliam especialistas ouvidos hoje (18) pela Agência Estado. A opinião corrente é de que as crises do Irã e da Nigéria, que justificaram a alta recente, não terão longa duração. O consumidor só correrá risco, apontam os analistas, caso as exportações do Irã, que tem a segunda maior reserva mundial de petróleo, sejam suspensas.

"Pode ser que, em meio a essa crise, o petróleo até bata os US$ 70 por barril, mas não se pode dizer que há uma tendência de alta no médio prazo", aponta o analista da consultoria GRC Visão Jason Vieira. Na sua opinião, a tendência natural é de queda, já que a relação entre oferta e demanda está equilibrada e o inverno americano foi menos rigoroso do que se esperava, com menor consumo de derivados para o aquecimento de residências e comércio.

"Se olharmos apenas fatores estruturais, a tendência é de que o petróleo fique, em 2006, mais ou menos no mesmo nível de 2005", opina o diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires. Impulsionado pelos problemas climáticos no Golfo do México, o barril de petróleo atingiu, no ano passado, um valor médio de US$ 59, quase US$ 6 abaixo do fechamento de hoje em Nova York. "Mas, se a crise do Irã se acirrar, o preço dispara", alerta.

O governo iraniano decidiu romper os lacres da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e voltar a operar suas centrais nucleares. Além disso, tem dado declarações polêmicas a respeito de Israel e do holocausto, acirrando os ânimos no Oriente Médio. Hoje, o mundo discute se impõe sanções diplomáticas ao país.

Para agravar o cenário, a Nigéria enfrenta greves e seqüestros no setor de petróleo. Maior exportador africano, membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) o país sempre teve problemas com milícias e etnias descontentes mas dessa vez as empresas que atuam por lá estão sendo obrigadas a fechar instalações administrativas e de produção. Juntos, os dois países exportam quase 5 milhões de barris por dia.

Vieira, da GRC, acredita que a alta recente do petróleo tem mais relação com especuladores do que com geopolítica. "É um retorno dos investidores que se aproveitam de momentos turbulentos para especular em cima dos preços", afirma. Ele concorda que o futuro dos preços é uma incógnita. Os entrevistados avaliam, porém, que a Petrobras vai aguardar a definição de novos níveis antes de decidir por aumentos nos preços da gasolina e no diesel.

Outros combustíveis que acompanham mais de perto a variação dos preços internacionais já vêm sentindo os efeitos das mudanças no mercado. No último dia 15, por exemplo, a Petrobras aumentou em 3% o preço do querosene de aviação, que acumula, neste início de 2006, alta de 10,5%.

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