Rio (AE) – No Rio, o debate em torno da manutenção da atual política econômica, que tornou públicas divergências entre o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, divide as opiniões entre os empresários. Num evento, representantes de empresas que dependem do mercado interno avaliam que é chegada a hora de questionar a manutenção de metas de superávit primário de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB) para impulsionar investimentos em infra-estrutura.
Já para executivos do setor bancário e exportador, a estabilidade gerada pela disciplina fiscal da gestão Palocci deve ser mantida.
"Quando a economia já está consolidada como agora, tem de pensar no desenvolvimento econômico do País. Esse ajuste fiscal foi para dar consistência no curto prazo, mas o Brasil precisa de investimento na infra-estrutura", considera o presidente da operadora de telefonia TIM, Mário César de Araújo. Para Araújo, está na hora de tornar flexível o ajuste fiscal promovido pelo ministro da Fazenda para que o País não viva "com uma minguada taxa de desenvolvimento".
Presidente do maior banco privado brasileiro, o Bradesco Márcio Cypriano avalia que o mais importante é a estabilidade da moeda. Cypriano ressalta que foi o ajuste fiscal que blindou a economia contra o "tiroteio político" que ocorre no País, atualmente. "Temos de lutar para manter essa estabilidade econômica. Por meio dela é que o País está equilibrado, o risco Brasil tem reduzido, constantemente, a bolsa está muito bem e as exportações continuam batendo recorde", afirma.
Segundo ele, deve haver cautela quando se defende o aumento da meta de superávit primário, que, para este, ano está projetada em 4,25% do PIB. "Você não pode nem ter ajuste muito rígido nem flexibilização. Acho que a política econômica que o ministro (Palocci) está seguindo está dentro daquilo que vem dando resultado", avalia.
A estabilidade do real foi a principal vitória do ministro da Fazenda, na opinião do vice-presidente da General Motors (GM) do Brasil, José Carlos Pinheiro Neto. De acordo com Pinheiro Neto, porém, é possível o País ter crescimento diante do objetivo de Palocci de alongar a disciplina fiscal para manter a estabilidade. "Certamente, não há conflito tão extraordinário entre crescimento e a necessidade dessa estabilidade. A estabilidade já proporcionou condições de se iniciar, definitivamente, o alargamento do nível de investimento visando o chamado crescimento", diz.
O presidente da petroquímica Braskem, José Carlos Grubisich, concorda com uma disciplina fiscal e orçamentária mais forte, mas defende queda gradual da taxa de juros. "A gente foi para um excesso de rigor monetário, fiscal. É evidente que esse dinheiro para acertar as contas públicas está fazendo falta no investimento de infra-estrutura, de educação", diz.
De acordo com o diretor-financeiro da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), Fábio Barbosa, o ajuste fiscal de Palocci deve ser preservado. "De modo a viabilizar a continuidade da boa trajetória da economia nos próximos anos, temos de demonstrar que somos, sim, capazes de lidar, responsavelmente, com a questão fiscal e assegurar que isso não é esforço de curto prazo", declara.