Brasília (AE) – Roberto Jefferson promete "nitroglicerina pura" no discurso que fará amanhã na tribuna da Câmara, na abertura da sessão que vai definir seu futuro político. À beira da cassação, o homem que denunciou o esquema do mensalão não deve poupar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Ele vai bater muito, com muita vontade no governo", afirma a filha do presidente licenciado do PTB, Cristiane Brasil. Aos 30 anos, a primogênita – vereadora em seu primeiro mandato no Rio de Janeiro – tem o estilo muito parecido com o do pai. Articulada, avisa: "Meu pai, com o microfone na mão, é um perigo." Ao Grupo Estado, em entrevista concedida na tarde de hoje, na sede do PTB em Brasília, Cristiane afirma que o governo do PT "é o governo do ódio" e, se cassado, Roberto Jefferson será vítima da vingança do Palácio do Planalto.
Para a filha do autor das denúncias do mensalão, que provocaram a maior crise da gestão Lula – com mais de 100 dias – o governo do PT acabou. "O governo é dos mortos-vivos. Eles já morreram e estão fedendo." A seguir, os principais trechos da entrevista:
P – Qual vai ser o tom do discurso de Roberto Jefferson? O que podemos esperar?
R – Não posso dizer que vai ser agüinha com açúcar e que ele vai falar apenas que o mundo é florido e que o céu é azul. Meu pai está muito decepcionado com essa situação política toda. Está muito impressionado com o tamanho do esquema de corrupção montado pelo governo. Eu acho que ele vai bater muito, com vontade no governo. Vai ser nitroglicerina pura.
P – O que a podemos esperar? Em se tratando de Roberto Jefferson tudo?
R – Tudo. Não bombas, não denúncias. Ele não precisa soltar bombas para fazer com que a ira governamental se acenda com força total, mais ainda, contra ele. Ele vai apontar caminhos, já apontados e que ainda não foram investigados, como os fundos de pensão.
P – A cassação dele é inevitável? Ou há alguma esperança, já que o voto é secreto?
R – Exatamente. Pelo voto ser secreto, as pessoas vão poder votar por convicção e eu acredito que, ao contrário até do que às vezes vêm sendo divulgado, meu pai tenha feito uma história de defesa do Legislativo, dos amigos parlamentares, dos deputados. Meu pai é conhecido, reconhecido e lembrado, das histórias que eu já ouvi contarem dele, pelos atos de bravura, de defesa dos parlamentares que estavam sendo execrados por outros colegas. Sempre que tinha alguém que tinha de ser defendido o meu pai era chamado. Então, eu acho que as pessoas que têm noção e lembram da história dele vão votar pela não cassação dele, pela manutenção do mandato. Não sou a favor de cassação política. Eu acho que o povo coloca é o povo que tem que tirar.
P – Você diz ser contra a cassação política. Vale só para o caso do seu pai ou para todos os demais deputados envolvidos nas denúncias de corrupção? Até para o ex-ministro José Dirceu?
R – Até em relação a José Dirceu. Ele já foi desmascarado. Ele vai ter o castigo dele nas urnas.
P – Há um temor da família e do próprio Roberto Jefferson de que ao final das investigações apenas ele venha a ser cassado?
R – Já começa pelo fato de ele ser o primeiro. A gente já acha um absurdo que ele esteja passando por isso. Pela própria figura que o colocou lá dentro para sofrer esse processo, o Valdemar Costa Neto (presidente do PL – primeiro deputado a renunciar ao mandato desde a crise do mensalão). Fez a representação e renunciou. Então, há sim essa preocupação.
P – O deputado Roberto Jefferson tem conhecimento do esquema de suposta propina que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), cobrou do empresário Sebastião Buani? Ou de que Severino recebia mensalão?
R – Não, não. Meu pai não está preocupado com os parlamentares. Denúncias sobre os parlamentares não são a tônica da vida do meu pai. Meu pai não participou disso. Não sabe dessas coisas. Não é por aí. O que meu pai presenciou, viu, ele falou. Ele falou o que sabia em relação ao esquema de corrupção montado pelo governo para comprar o voto dos parlamentares em detrimento da discussão ideológica. É a forma do PT de governar.
P – Então, a cassação no plenário é pose para a sociedade. Não tem uma razão de ser?
R – Tem uma razão fortíssima de ser. A vingança, o ódio porque esse governo é o governo dos ódios. O ódio que estão de terem sido denunciados.
P – O presidente Lula está ou não envolvido no esquema do mensalão?
R – Obviamente que sim, na minha opinião. É claro e cristalino como água. Só não vê quem não quer. Esse homem viveu como um profissional dentro do partido a vida inteira. Viveu como presidente do PT a vida inteira. Ele é o líder do Campo Majoritário. Como ele não sabe? Para mim, sabe sim.
P – Se o Lula sabia de tudo, qual a razão de seu pai ter isentado o presidente?
R – Como falar mal de um homem com a popularidade que ele tinha naquele momento. Meu pai não precisava ir contra o Lula naquele momento. Quem vai cassar o Lula é o povo. Meu pai é contra a cassação política, é contra o impeachment. O Lula nunca mais volta. A verdade aparece sozinha. Você pode tentar colocar ela embaixo do tapete, mas ela vai aparecer. Está aparecendo. Já estamos próximos de até um desfecho possível como esse.
P – Mas a popularidade do presidente está em queda. Ainda há tempo. Por que, então, amanhã não falar do envolvimento do Lula?
R – Agora, nesse momento, o presidente é questão de tempo. O governo é o dos mortos vivos. Eles já morreram e estão fedendo. Acabou. O governo acabou. Falta muito pouco para aparecer o que já sabem.