A política brasileira nos últimos anos foi transformada por seus protagonistas – os chamados homens públicos – num escandaloso exercício de toma-lá-dá-cá. Não se move uma palha sem requisitar bela recompensa em troca da moeda mais valorizada no Planalto Central, o voto no Congresso.
Com a eleição do deputado Severino Cavalcanti à presidência da Câmara, essa prática despudorada chegou às raias do absurdo mais inconseqüente, vendo-se o atual governo literalmente levado às cordas e constrangido a abrir mão, com uma passividade preocupante, daqueles princípios comezinhos sempre exigidos dos detentores do poder, antes dele.
A última concessão de Lula ao deputado Severino Cavalcanti foi a nomeação de José Maurício Cavalcanti, filho do presidente da Câmara, para o cargo de delegado regional do Ministério da Agricultura, em Pernambuco. O inflado pai viajaria de Roma diretamente a Recife, para presidir a cerimônia de posse do rebento, marcada para ontem.
O governo Lula é univitelino dos que o antecederam na distribuição dos disputados DAS. No âmbito federal, são mais de 22 mil cargos que não requerem concurso público para as nomeações, e do total, cerca de 15 mil foram utilizados pelo ministro José Dirceu para abrigar na máquina os ?quadros? relacionados pelo Partido dos Trabalhadores. À base aliada coube o restante.
Para o líder do governo na Câmara dos Deputados, o paulista Arlindo Chinaglia, a ordem é recompor a base aliada. Nada mais eficaz para lograr as reparações exigidas que a concessão de nomeações e emendas orçamentárias aos deputados mais inquietos. Essa é a lente pela qual o governo enxerga seu horizonte próximo, a eleição do ano que vem.
Um sinal de que a fisiologia, antiga enfermidade da nossa política, não cede enquanto a prescrição do tratamento permanece no discurso oco dos dirigentes.