Discurso de Palocci em Porto Alegre será o mesmo de Davos

Defesa veemente de postulados econômicos ortodoxos, uma platéia engravatada e bem-comportada e distância estratégica dos militantes antiglobalização marcaram a passagem do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, pela capital gaúcha no dia em que foi aberto o 3.º Fórum Social Mundial.

Enquanto ativistas do PT se preparavam para a caminhada de protesto contra o capitalismo debatido no Fórum Econômico Mundial em Davos, o petista Palocci os defendia na cidade que há três anos sedia os protestos contra o “imperialismo” supostamente representado pela reunião na Suíça.

“Não posso falar em lugares diferentes mensagens diferentes”, justificou o ministro, quando se preparava para deixar o almoço na sede da Federação das Associações Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul). “Vou levar (para Davos) a mesma mensagem.” Ele disse pretender trabalhar para que o público do FSM em Porto Alegre – calcula-se que cerca de 100 mil pessoas vindas de todo o mundo – absorvesse bem sua reunião com os dirigentes empresariais gaúchos.

Vai ser difícil, a julgar pelo público e pelo que o ministro disse. A menos de uma hora da abertura do 3.º FSM e suas manifestações contra as corporações, Palocci, que foi direto do Aeroporto Salgado Filho para a entidade e vice-versa, sem participar de nada ligado ao FSM, descrevia um quadro dramático das empresas, que, ressaltou, ?há mais de duas décadas vivem apreensivas?. ?Como resultado, muitos de nós vivem cotidianamente o dilema entre investir, que requer mobilizar recursos financeiros muitas vezes vultosos, para expansão e modernização da capacidade produtiva, e se precaver para uma retração súbita da demanda.?

Sem a presença de ativistas do FSM, que ignoraram a visita do ex-trotsquista Palocci à cidade, o ministro assumiu com tranqüilidade trechos inteiros do tradicional discurso empresarial. Também pregou a ?cuidadosa gestão da coisa pública  o ajuste do Orçamento com a precisa definição das prioridades de gastos e a análise dos benefícios dos diversos programas sociais?, além de reformas previdenciária e tributária e mudanças que ajudem os bancos a recuperar seus empréstimos mais facilmente e, assim, barateá-los.

Na saída, Palocci assumiu outro tom. Disse achar importante que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participe de todos os foros internacionais – inclusive os antagônicos de Porto Alegre e Davos – para ?levar uma nova mensagem para o mundo sobre o processo de globalização e as conseqüências no plano da exclusão social, que são fortíssimas em muitos países em desenvolvimento?.

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